Olá galerinha! Prontos para uma nova resenha? Esse é daqueles livros que merecem uma atenção especial e foi assim minha leitura. Estamos falando, é claro, de O Conto da Aia, de Margaret Atwood, o livro que originou a série do Hulu, The Handmaid’s Tale. Uma obra totalmente distópica, mas que também fala de esperança… Bora lá.

Bom, falar desse livro é um tanto quanto difícil. Primeiramente, vou tentar resumir a história. De início, conhecemos Offred, uma aia. Uma mulher que, agora, tem apenas um direito na sua vida: gerar filhos. Acontece que os filhos não são dela e sim da família ou casal para quem ela serve e fornece esse “serviço”. É assim que as coisas são agora na República de Gilead. Tudo isso começou quando, em nome de Deus, um grupo assassinou todos os congressistas do país (que seria os Estados Unidos) e seu presidente e instituem uma nova governança onde a constituição não é mais o que rege. Uma religião oficial agora é o que comanda o país e as mulheres não tem mais direitos, mas têm funções. Offred é uma aia, mas há as Marthas e as Tias e, na minha opinião, as Esposas também exercem sua função numa república totalmente machista.

Offred um dia foi casada com Luke, com quem teve uma filha, Hanna – os quais ela não faz ideia se estão vivos ou não. Offred um dia teve outro nome. Agora, ela tem um nome temporário, o nome de Offred. O significado desse nome foi uma das coisas que mais “pesou”, para mim quando o descobri. Na verdade, esse nome é uma junção de Of + Fred. Traduzindo, “de Fred”. Adivinhem o nome do comandante para quem Offred presta seus serviços? Sim, Fred Waterford. As aias não têm mais nome próprio e, nessa nova sociedade, até seus nomes pertencem aos homens. Por isso, depois que ela fornece seus serviços (bem ou mal), ela pode virar a aia de um outro comandante e, então, receber um nome diferente. É assim que as coisas funcionam.

Um rato num labirinto está livre para ir a qualquer lugar, desde que permaneça dentro do labirinto.

Bom, sem mais “spoilers”, vou falar um pouco do que achei dessa obra. Primeiro de tudo, acho que criei uma expectativa de que a história em si teria um peso enorme, assim como ouvi dizer que a série do Hulu é. Acontece que não é bem assim… a história, contada pela perspectiva de Offred, é, na verdade, um relato dos seus dias vivendo nessa nova sociedade, mas com lembranças de sua vida passada, e uma certa visão utópica de como ela queria que as coisas fossem ou como seriam se eles tivessem conseguido fugir para o Canadá. De qualquer maneira, não é empregado o mesmo peso que eu vi na série. Há sim, o fato de ser uma sociedade totalitária, onde as mulheres são punidas e não têm direitos. Mas acho que, quando essas coisas ganham uma imagem real, isso as torna muito mais “fortes”, enquanto o que está escrito, é tão cruel quanto, mas não tão “forte” quanto. De qualquer maneira, é revoltante como as coisas são, mas ao mesmo tempo, como Offred parece “conformada” por ter que viver daquela forma…

Nessas ocasiões leio depressa, vorazmente, quase saltando trechos, tentando botar o máximo possível dentro de minha cabeça antes do próximo longo período de fome. Se estivéssemos comendo seria a glutonaria dos faminto, se fosse sexo seria uma rapidinha furtiva de pé em um beco em algum lugar.

Acho que da metade do livro para o fim é que as coisas realmente acontecem. Pelo menos na minha visão, nessa segunda “parte” há coisas muito relevantes que mostram o quanto a narrativa de Margaret, dando voz a Offred, é importante nos dias de hoje. A luta do feminismo, pela igualdade de direitos, se remete completamente à República de Gilead, ao combate dessa sociedade machista e totalitária. É um livro de 1985 mas muito atual. A parte do “ritual”, que é, acredito eu, uma das partes mais cruéis do livro, mas que não é muito explorada. Mas a cena, em si, é arrepiante, porque é assim que as coisas precisam ser, é assim que a lei determina que seja e ter que passar por isso parece ser surreal e cruel…

Outra coisa que é colocada no livro é que as mulheres que não se encaixam nas categorias de Aias, Tias ou Marthas, ou as Esposas dos Comandantes, são consideradas não-mulheres. São mulheres que não podem ter filhos, homossexuais, feministas e até mesmo as viúvas. Todas elas são condenadas a trabalhar nas colônias… e é uma condenação perpétua. Não há mais volta. A questão é que, geralmente, há uma escolha. Elas podem ir trabalhar lá, ou podem escolher um outro destino, que não é, necessariamente, positivo.

Achei a conclusão da história muito interessante, e ao mesmo tempo, com gosto de “quero mais”. Mas é totalmente compreensível para o sentido que a autora quis dar e acho que foi muito bem encaixado. Inclusive o que se segue depois que, é claro, não irei contar. Mas foi realmente uma excelente ideia de Margaret e que me ajudou a compreender a história em sua totalidade.

Bem, como eu disse, é muito difícil mesmo falar sobre esse livro. Só posso resumir que adorei essa obra e mal posso esperar para assistir à série, ainda que tenha a percepção de que irei sofrer um pouco, pelo peso da narrativa e por ser uma história tão distópica, mas ao mesmo tempo, tão presente. Recomendo que você que ainda não leu essa obra, o faça logo. Porque há muitas coisas nesse livro muito importantes e que precisam ser discutidas hoje e sempre. Até a próxima!

Ficha técnica

O Conto da Aia

Autora: Margaret Atwood

Editora: Rocco

Ano: 2017 (Edição Rocco)

368 páginas

Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

2 thoughts on “Resenha: O Conto da Aia – Margaret Atwood”

Deixe uma resposta