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Olá, pessoal! Bora de resenha pra começar bem o mês? Pois bem! Hoje quero compartilhar minhas impressões sobre “Território Lovecraft”, de Matt Ruff – esse foi o livro de janeiro do Intrínsecos (unboxing aqui!). Nessa obra, o autor mistura o terror fantasioso de H.P. Lovecraft com a segregação racial dos Estados Unidos da América, mais marcante por volta da década de 1950. Me acompanhem e aproveitem a leitura:

Estamos em 1954. A história começa com a viagem de Atticus Turner de volta para sua cidade natal, Chicago. Ele recebeu uma carta de seu pai e precisar voltar para casa. Mas Atticus é negro, e vive numa época em que os EUA passam por momentos tenebrosos: a segregação racial. A viagem de Atticus, apesar de ser a história mais longa, é só a primeira das oito histórias que o livro conta, como se fosse uma introdução às demais.

Todas as histórias são relacionadas aos parentes e amigos de Atticus. Cada um conta uma parte de uma história, que no fim, estão interligadas a uma seita, formada por brancos em busca de (mais) poder – ah, e que são adeptos à magia. Mas o que esses “contos” têm em comum são os desafios que os negros enfrentam, quando até a lei está contra eles, o que acaba sendo mais assustador do que as coisas sobrenaturais que acontecem conforme a narrativa avança.

Logo na primeira página já somos introduzidos a como era tratado um negro na década de 1950. Atticus é, talvez, a personificação da segregação nos Estados Unidos naquela época, do racismo presente em cada esquina e cada metro que um negro andava. Ele seguia viagem com um guia “Guia de viagem do negro precavido” – o que, por si só, já evidencia muita coisa. Há um impacto muito forte já nas primeiras páginas, ao sermos introduzidos de cara àquela época.

Depois, vemos que todos os personagens são a personificação dessa segregação, em histórias que variam muito. Têm certa dose de humor ácido, ironias, suspense e até terror. Mas acho que a fantasia e a ficção científica predominam mais, principalmente a fantasia. Nunca li nada de Lovecraft, confesso. Na verdade, ao ler esse livro, pude ter uma ideia do que representa suas histórias, com o toque de criatividade de Ruff.

Talvez a obra tenha elementos escondidos das obras de Lovecraft na narrativa, coisas que não percebi até por não conhecer as histórias do autor. Mas, no começo, o autor dá mais dicas e sinais que levam à Lovecraft. Depois me parece que isso se perde e ele foca mais na história que ele criou – apesar de tudo ainda envolver coisas sobrenaturais etc.

Tem uma boa dose de terror e suspense interessante, que dão certo fôlego à história. Não é um livro que te prende de início ao fim. Mas é uma leitura bem interessante e ágil. A narrativa do autor é bem construída, e as histórias são bem amarradas. Tem elementos interessantes também, como a maçonaria, ordens e seitas, feitiçaria e magia, que dão o toque certo de fantasia – e que me instigaram a continuar a leitura.

Acho que a parte mais interessante, no entanto, que mais desperta atenção e, no meu caso, que mais me deixou interessado pela história, é a questão da segregação racial nos Estados Unidos. O racismo puro, em sua essência, transcrito tão bem nas palavras de Matt Ruff. De certa forma, chega a dar certo asco ao ler coisas assim – principalmente pois ainda hoje é uma realidade, talvez não na mesma intensidade daquela época.

Ainda assim, o autor coloca o racismo de uma forma muito sutil, sem exagerar. A segregação está presente, mas ela é “rotina”, não é algo que precisa ser totalmente explícito. Sabemos que ela existe, assim como os personagens. Então o autor soube mesclar muito bem a questão racial com a ficção e a fantasia que ele criou, ao passo que se torna algo “natural”, se entendem o que quero dizer, sem precisar forçar para nós que estamos vivendo naquele momento – e o quanto ele é cruel.

A conclusão da obra tem, acredito, a essência de tudo aquilo que Ruff criou ao longo das páginas. Todos os elementos se misturam. E foi fácil visualizar todo aquele desfecho na minha cabeça. Assim eu sei que a obra cumpriu seu papel, pelo menos comigo. Me mostrou como a segregação influenciou as coisas, como o preconceito pode ser marcante, mas também nos dando uma injeção de fantasia e ação, que nos prende.

No geral, é um livro muito interessante e necessário para entendermos esse momento – e principalmente, como ele ainda tem impactos hoje em dia. Mas também tem a fantasia e todos os elementos fictícios da obra que a tornam uma leitura ainda mais prazerosa. Ainda assim, eu não consegui visualizar a influência de Lovecraft muito na obra – apesar de ter seu nome logo no título. Mas tudo bem, isso não prejudica a leitura em si.

E é isso! Espero que tenham gostado dessa resenha. Logo mais esse livro será lançado oficialmente pela Intrínseca e eu mais do que indico a leitura. Vocês já leram livros de H.P. Lovecraft? Gostam? E o que acham de livros que remetem à segregação racial? Aguardo a opinião de vocês. Até mais!

Território Lovecraft

Autor: Matt Ruff

Editora: Intrínseca/Intrínsecos

Ano: 2020

352 páginas

Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

4 thoughts on “Resenha: Território Lovecraft – Matt Ruff”

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