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Oi, gente. Hoje trago mais uma resenha daqueles livros incríveis que eu tive o prazer de ler. Estou falando de “Os Testamentos”, de Margaret Atwood. É a sequência de “O Conto da Aia” (resenhado aqui!), e que nos aprofunda ainda mais no mundo de Gilead, que um dia foi conhecido por Estados Unidos da América. Espero que gostem. Aproveitem a leitura:

Muitos anos depois de Offred, que conhecemos no primeiro livro, ter sido colocada numa van, sem sabermos qual era seu destino, finalmente a autora nos faz retornar aos terrores de Gilead para, talvez, saber o que aconteceu com ela. E dessa vez, Atwood conta mais sobre esse mundo pelas vozes de Tia Lydia, Daisy e Agnes. Cada uma em sua perspectiva, mas todas revelando o que é viver em um mundo totalitário dominado pelos homens.

Tia Lydia é a voz interna do governo de Gilead. Ela é uma pessoa de confiança dos comandantes do país e coordena diversas ações, interna e externamente, em Gilead. E seus anos vivendo nesse regime como uma pessoa de confiança, contados aos leitores por uma espécie de testamento, resultaram em diversos segredos e estratégias políticas.

Já Daisy é uma adolescente que não conhece as crueldades de Gilead de perto, apenas de longe. Ela vive no Canadá, e protesta contra os horrores do país vizinho. Enquanto Agnes é uma das que nasceram nesse regime e nos conta como é viver nele, mesmo sendo filha de um comandante e tendo vários “privilégios”. Acontece que as vidas das três, em certo momento, se cruzam.

Bom, esse é um resumo, um tanto quanto necessário, para introduzir minha visão sobre essa obra. Primeiro de tudo, preciso dizer que achei que esse livro poderia ser, de certa forma, algo forçado, que a autora escreveu pelo simples objetivo de vender. Mas me surpreendi. A própria autora afirma que os leitores buscavam respostas, e depois de 35 anos (“O Conto da Aia” é de 1985), resolveu responder algumas coisas.

Ou seja, o livro foi feito para os leitores, e a dedicação de Atwood de nos oferecer uma histórica concisa, impactante, nos mesmos moldes do primeiro livro, é de se elogiar. O livro não tem, na minha leitura, incoerências. É como se ela tivesse escrito ambos um na sequência do outro. Nesse, é claro, há um aprofundamento maior sobre Gilead e regimes totalitários, com uma perspectiva maior.

Ao longo da narrativa, a autora deixa várias questões e pequenas dúvidas para o leitor, esperando que depois nós descubramos as respostas… de certa forma, isso torna a leitura mais instigante e mais curiosa. Ao mesmo tempo que xingamos, pois gostaríamos de saber o que ela está querendo dizer com isso, queremos chegar nas respostas.

Tia Lydia é uma das personagens mais marcantes dessa distopia, na minha visão. Tudo o que ela faz, que ela mesma conta, é simplesmente impactante e chega até ser confuso. Ela nos conta um pouco de como chegou ao seu posto, e como desejou sair dele, nos moldes dela. Ou seja, era ela quem movia as peças certas, nos momentos certos – e isso tudo fica às claras para nós.

Daisy é uma das personagens mais modernas, e talvez represente melhor a mudança que 35 anos de uma história para outra representa. Ela é mais “da nossa geração” em suas características, atitudes e falas. E ela representa muito bem a resistência ao totalitarismo de Gilead, ainda que vivendo fora dele.

A personagem mais intrigante, no entanto, é Agnes, que vive dentro de Gilead, tendo como pai um comandante de alta patente dentro do país. Tudo o que ela conta, em forma de testemunho, me parece ser uma forma de aviso para qualquer pessoa que viva num regime como tal, querendo dizer que não é tudo isso. Mas ela demonstra um comportamento diferente de Agnes, por exemplo, ou da Aia Offred, do primeiro livro. É uma visão completamente distinta – e ainda assim, tão cruel quanto.

Acho que o momento em que os caminhos das três se cruzam é, talvez, o mais importante, e o que representa uma esperança para quem sofre com o totalitarismo de Gilead, e para nós leitores que buscamos essa esperança em diversos momentos, seja pela história ou por nossa própria realidade.

A construção para chegar ao que vemos depois, quase da metade pro fim do livro, é muito inteligente. É algo que se encaixa, sabe? Pense nas peças que Tia Lydia move dentro de Gilead, e como tudo se encaixa depois. É basicamente isso.

Sobre a conclusão do livro, e sinto muito, mas é inevitável não dar um pequeno spoiler, portanto, cuidado… a forma como a autora conclui essa obra é como se dissesse: agora sim demos um ponto final nessa história. E tem um final feliz que no primeiro não teve. Tem um final concluso que o primeiro não teve. Ou seja, a autora escreveu essa obra para nos responder e nos deu começo, meio e fim.

Mas sabem de uma coisa? Eu vejo que ainda há elementos para essa história, para conhecermos mais desse universo criado pela autora, sem que seja algo forçado. E eu leria, com certeza, tanto quanto indico essa obra distópica e necessária.

Espero que tenham gostado dessa resenha! Tento não me prolongar tanto, mas é difícil haha vocês já leram “Os Testamentos”? O que acharam? Me contem tudo! Até mais <3

Os Testamentos

Autora: Margaret Atwood

Editora: Rocco

Ano: 2019

448 páginas

Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

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