Resenha Malorie - Josh Malerman

Olá pessoal. Tudo bem? É com muito prazer que trago para vocês a resenha de “Malorie”, de Josh Malerman, a sequência de “Caixa de Pássaros” (ou “Bird Box”), lançado pela Intrínseca. Só para começar, quero dizer que logo nas primeiras 30 páginas meu pensamento foi: “como Josh Malerman é f*da!” rs Dito isso, espero que aproveitem a leitura:

Malorie e os filhos (a Garota e o Garoto, hoje Olympia e Tom) conseguiram atravessar o rio, com vendas nos olhos, e chegaram a um lugar de esperança. Agora, 12 anos depois, a regra continua a mesma: tapar os olhos, pois os três sabem que qualquer vislumbre das criaturas é suficiente para a loucura. A questão é que Malorie descobre duas coisas.

A primeira é que pode ser que haja sobreviventes, pessoas que ela considerava mortas, o que faz com que ela se permita ter esperança pela primeira  vez em anos. Mas, a segunda descoberta é que em algum lugar perto de onde estão, alguns afirmam ter capturado criaturas e feito experimentos perigosos. E agora Malorie precisa escolher: ficar com suas regras ou se aventurar mais uma vez – no escuro.

Bom, é importante dizer que o ator já começa sua narrativa, em terceira pessoa, com a tensão, o nervosismo que nos atinge tão bem quanto atinge os personagens, característicos de uma história dele. É isso que move a história, essa tensão, esse “não saber”. E o autor já começa assim, nos entregando algo eletrizante.

Quando fiquei sabendo da sequência, mantive o “pé no chão”, para não correr o risco de me decepcionar. Porque continuações de livros que pareciam ser uma história “única” sempre dão essa sensação em mim. Mas foi exatamente isso que tornou a leitura de “Malorie” tão surpreendente e inesperada pra mim.

O autor consegue construir uma narrativa que faz todo sentido em livros pós-apocalípticos como tal. Ele joga artifícios que levam ao que acaba acontecendo no livro, desde o início. E ao mesmo tempo, ele trabalha mais nos personagens também. Em Malorie, especificamente, mas também nos seus filhos: como as regras dela os moldaram, ao passo que os fizeram sobreviver tanto tempo.

Nesse sentido, ele cria uma expectativa enorme no leitor. Como se dissesse nas entrelinhas: “alguma coisa vai acontecer, alguma coisa bem ruim vai acontecer”. E é exatamente isso que acontece. Ele já cria a expectativa, mas quando acontece, ainda é surpreendente. Não tem como não ser no universo de “Caixa de Pássaros” e “Malorie”.

Aliás, esse livro tem o mesmo ritmo de “Caixa de Pássaros”, na minha visão. Portanto, é uma narrativa que se aproxima muito do primeiro livro, o que é bom, na minha perspectiva. É como retornar a um lugar confortável, como estar em casa. Só que nesse caso, cegos, pela venda. E pelos monstros a solta.

Mas como eu disse, logo de início, Malerman cria o mistério, o “carvão” que vai mover a história. E ele faz isso sem enrolação. É direto, ainda que mais detalhista que o primeiro livro. Tem algumas cenas de autorreflexão muito importantes, que nos levam à discussão sobre sanidade mental, sobre o ser humano em sua essência.

Então, ao passo que é uma aventura, um thriller, é também um suspense psicológico. Porque Malorie mexe muito com nosso psicológico e com o dos personagens. Parece que há uma sombra rondando todos eles, o que pode muito bem ser os monstros, que ninguém sabe o que são, só o que causam…

Outra “figura repetida”, é como o autor mexe com nossos sentidos. Especificamente, nesse caso, a audição. Como é necessário ouvir. E ele constrói essa narrativa brilhantemente. Se não podemos ver, então temos que escutar. E é isso que fazemos, junto dos personagens. Ele explora muito os recursos auditivos, colocando elementos focados nesse sentido.

E o contraponto é exatamente a visão oculta. Não podemos ver, os personagens não podem ver. E o autor deixa claro isso, deixa claro que eles têm uma venda sobre os olhos. Então, enquanto usamos nossa visão para ler aquelas palavras, não conseguimos ver o que os personagens estão enfrentando. Só ouvir – e Malerman descreve isso de forma magnifica.

Nesse livro, o autor nos dá algumas respostas, mas não a ponto de estragar o mistério. Ainda assim, ele deixa muitas perguntas sem respostas, o que me faz pensar que poderia acontecer uma continuação, nesse mesmo universo, mas não mais centrada em Malorie. Acho que a história dela, de certa forma, teve um começo, meio e fim. Mas seria interessante o autor explorar de outras formas esse universo.

Por fim, quero destacar mais dois pontos. Primeiro, o protagonismo feminino. “Caixa de Pássaros” já tinha esse protagonismo, era a vida de Malorie, mas também tinha outras personagens centrais. Nesse, a história é mais focada em Malorie e nos filhos, e como tudo gira em torno das regras criadas por ela ao longo dos anos, como ela os protegeu e quer continuar fazendo isso, custe o que custar, mas como ela também é ser humana e se permite sentir esperança.

E outro ponto é que o autor nos entrega reviravoltas incríveis, a ponto de nos deixar boquiabertos. Lembro que enquanto lia especificamente alguma dessas partes, eu basicamente gritava mentalmente (pq né?!). Enfim, Malerman tem um jeito de escrever incrível, e nesse livro ele meio que retorna ao que me conquistou em “Caixa de Pássaros”, aquela tensão, aquela coisa de não sabermos o que vai acontecer nas próximas linhas…

Enfim, é isso. Eu simplesmente adorei essa leitura, tanto que a devorei em poucas horas. Josh Malerman continua não decepcionando e, na minha visão, esse livro o fez retomar o fôlego para histórias como essa, um thriller instigante e envolvente, que não te deixa largar um minuto sequer!

Espero que tenham gostado da resenha. Nos vemos na próxima!

Ficha técnica

Malorie

Autor: Josh Malerman

Páginas: 288

Editora: Intrínseca

Ano: 2020

Onde comprar: Amazon (físico) | Amazon (e-book)

Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

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