Livro O enigma do quarto 622 - Joël Dicker

Olá, galera! Preparados para a primeiríssima resenha de 2021? Pois bem, começamos o ano com a resenha de “O enigma do quarto 622”, de Joël Dicker. Esse foi o livro de dezembro do Intrínsecos. E digo uma coisa: foi uma das leituras destaques de 2020 pra mim. Um suspense incrível, devo dizer. Mas vamos chegar lá! Enfim, espero que gostem da resenha e aproveitem a leitura:

A HISTÓRIA DE “O ENIGMA DO QUARTO 622”

Em uma determinada noite de dezembro, o quarto 622 do Palace de Verbier, um luxuoso hotel nos Alpes suíços, foi cenário de um crime. Um cadáver é encontrado por um funcionário. Acontece que nesta ocasião, o hotel sediava uma festa anual de um prestigiado banco suíço. Aliás, o assassinato foi na véspera em que o novo presidente do banco seria anunciado. Mas a investigação esfria sem chegar a um culpado e o caso é esquecido por mais de 15 anos.

É quando um escritor, de nome Joël, resolve se hospedar neste mesmo hotel como uma forma de tirar umas férias. Afinal, ele está amorosamente desiludido, e acaba de perder um grande amigo, seu editor por muitos anos. Ao chegar no famoso hotel, ele é enviado para um quarto e, ao passar por um dos corredores, ele descobre que um dos quartos tem o nome de “621 bis”, e o próximo é o 623. O que aconteceu com o 622? Então, o espírito “investigador” do escritor acaba por envolvê-lo naquele crime do passado. Ele será capaz de descobrir?

A ESCRITA DE JOËL DICKER

O primeiro ponto que quero destacar é a escrita de Joël Dicker. Aliás, acho que isso é o que de fato permeia toda a história. Dicker já é conhecido por inserir escritores em seus livros. E aqui, parece que isso toma uma proporção diferente, mas muito interessante de ler. A narrativa dele se divide em primeira pessoa (na perspectiva do autor) e em terceira pessoa (na trama que envolve a presidência do banco e que já vou falar sobre). Portanto, essa dualidade, comum até, torna a leitura rápida.

Certamente, como era de se esperar, o autor já nos insere nas suas tramas rapidamente. Essa é uma história que já começa com os enigmas e mistérios, o que já ajuda a te colocar em perspectiva ao romance e te instiga a seguir com a leitura. A escrita de Dicker me parece diferente nesse livro, dos outros que li dele pelo menos. Parece ter mais objetividade, mas sem perder os detalhes que um bom romance policial precisa. E isso é durante todo o livro, o que nos dá a sensação de assistirmos a um filme (ou série), nos envolvendo com tudo.

Além disso, os personagens também ajudam em muito na narrativa. Eles, junto do enigma, são como a força motriz do romance. E a nós só basta seguir junto para entender tudo. Não apenas o Joël e na investigação do crime, ele conta com uma parceira que é muito enigmática, mas divertida. E é ela quem move o autor a continuar investigando, e escrevendo, enquanto o ajuda no luto por seu editor.

REALIDADE X FICÇÃO

Um dos destaques do livro é o fato de o autor colocar como protagonista um escritor chamado Joël, seu próprio nome. Com certeza foi uma boa sacada. Primeiro porque isso é um outro mistério da trama. Ele descreve o autor como uma outra pessoa. Mas ele dá dicas (o editor falecido, a cidade natal onde mora) que aproximam a história do escritor do “real”. No entanto, não dá pra sabermos se tudo o que ele descreve sobre esse Joël é real ou fictício.

Outro ponto, nesse sentido ainda, é que é muito interessante que esse livro se passa na terra natal de Dicker, quando seus outros romances se passam geralmente nos Estados Unidos. Então, além do seu próprio nome, tem esse ponto que difere de suas outras histórias. Eu diria que é uma forma de renovação da sua escrita, não sei. Mas que soa diferente (e melhor), pra mim, não há dúvidas. E é uma impressão que passa logo nas primeiras páginas.

O AUTOR DENTRO DA HISTÓRIA

Particularmente, gosto quando os autores se inserem nas suas histórias, seja de forma fictícia ou não – geralmente eles fazem parte da ficção. Os poucos que li, como Stephen King e Raphael Montes, fizeram isso brilhantemente. E parece ser um ponto em comum nas histórias de Dicker, mas essa é a primeira em que há mais “coincidências”, como o próprio nome. E é isso que ajuda a manter o ar de mistério do romance.

Eu gosto dessa relação entre real e fictício que permeia o livro. Isso é algo que sempre me chamou atenção num livro. Principalmente quando o autor se insere na obra, de forma fictícia ou não. E nesse sentido, ele mostra um pouco do seu processo de escrita, ou algo parecido com isso. O que também é muito interessante de ler, pois o autor da história vai para os Alpes em busca de inspiração para continuar seu atual o livro. Então, ele acha inspiração para um livro totalmente diferente.

A TRAMA SECUNDÁRIA DE “O ENIGMA DO QUARTO 622”

Entre a narrativa da investigação do crime por Joël, o autor também nos coloca numa trama secundária, que é exatamente a disputa pela presidência do banco. Quem seria o sucessor e todas as consequências disso. Mas tem um ar de mistério que é bem interessante. Não é simplesmente a disputa “política” pela presidência. Tem mais nisso do que sabemos. Além disso, tem outras “subtramas”, que tornaram a leitura ainda mais instigante.

O autor consegue te envolver de uma maneira incrível na história. Mas, depois que terminei a leitura, posso dizer que ele faz isso melhor com a trama envolvendo o banco suíço e sua presidência de que a investigação do assassinato. Me parece que ele dá mais atenção a isso do que de fato à investigação em si. Então, quando as duas coisas se misturam, é possível ter uma ideia da inteligência de Joël Dicker.

UM PEQUENO SPOILER

O autor nem revela quem é a pessoa que foi assassinada logo de início. Isso nos deixa ainda mais curiosos, obviamente, e tentando interpretar os sinais (se é que têm) pra descobrir quem é a vítima. O que nos deixa com muitas teorias e poucas respostas, claro. Isso só a revelado pra mais da metade do livro e até lá só ficamos com pistas que podem muito bem nos levar a caminhos diferentes do que o autor pensou e escreveu.

Quando enfim ele revela quem foi assassinado, isso não é feito com pompas, como se espera em um romance. Por exemplo, quando a última frase da página é exatamente o nome do assassinado. Isso não acontece aqui. Na verdade, é como se fosse algo normal, corriqueiro. “Siga em frente, leitor”. Nada de mais nisso. Acontece que é tudo! É surpreendente, algo que eu não esperava, certamente. E aí as coisas começam a tomar outros rumos.

UM POUCO DE FÔLEGO?

Pouco antes da metade, me pareceu que o autor ia perdendo o fôlego. Mas então ele vai inserindo novas tramas, fazendo algumas revelações que de fato influenciam toda a obra e os personagens. Nessas horas, a leitura chega a ficar um pouco cansativa, mas são apenas momentos, que passam rapidamente. Porém, isso é rapidamente remediado com umas reviravoltas de tirar o nosso fôlego.

Aliás, parece que o autor reservou os últimos capítulos exatamente pra jogar todas as mentiras e mistérios no ventilador e a gente vai descobrindo várias coisas, uma mais impensável que a outra, uma mais surpreendente que a outra. São nesses momentos, quando ele parece revelar algo que, na verdade, não é bem assim, que eu fiquei pensando exatamente isso: “meu Deus, que livro bom!!!!”. Não tem outra descrição.

OS PINGOS NOS Is EM “O ENIGMA DO QUARTO 622”

No fim, eu só conseguir pensar “que livro perfeito”. Isso porque o autor vai preenchendo todas as lacunas, sem deixar pontas soltas. Mesmo a última das dúvidas que eu tinha, um único ponto que eu ainda não tinha entendido, o autor vai lá e explica. A verdade é que me dei conta que li um romance dentro de um romance. Um livro dentro de outro livro. A narrativa do escritor e a narrativa da trama se misturam. E o autor fez isso de maneira incrivelmente perspicaz e inteligente.

Ah, e essa obra faz uma homenagem muito bonita ao editor falecido de Joël Dicker (o real), sem dúvida. A dedicatória do livro é de Bernard de Fallois e, além de homenageá-lo dessa forma, ele também insere o editor na sua história, como parte do “real”. Novamente, trazendo aquela dualidade de ficção x real, que é muito positiva e instigante. E dá pra ver que a relação de Dicker com Bernard foi realmente bonita – e inspiradora.

Enfim, gente, não há mais o que dizer. Com certeza foi um dos melhores livros que li, não apenas de 2020. Portanto, se você quer um bom romance policial, com muito suspense e reviravoltas, e aquela pitada de “realidade”, eu diria que “O enigma do quarto 622” é o livro certo – quem sabe para colocar na sua meta de leitura. Acho que, para quem é escritor, pode ser um ponto de inspiração, inclusive. E não é exagero da minha parte rs

Bom, obrigado por lerem essa resenha. Deixem nos comentários o que acharam. Nos vemos na próxima!

Ficha técnica

O enigma do quarto 622

Autor: Joël Dicker

Páginas: 526

Editora: Intrínseca (Intrínsecos)

Ano: 2020

Onde comprar: Amazon (físico) | Amazon (eBook)

Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

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