Resenha O futuro dos que ardem por um passado melhor

Oi, gente, tudo bem? Hoje trago para vocês a resenha de “O futuro dos que ardem por um passado melhor”, de Daniel Falcon Lins. Se o título é grande e intriga de cara, vocês não imaginam até onde essa história chega, de fato. E essa distopia é tão surpreendente quanto reflexiva. Mas vamos com calma. Recebi essa obra da nossa parceira Oasys Cultural – o que, como sempre, tem me rendido ótimas leituras. Então, espero que aproveitem a resenha:

A SINOPSE DE “O FUTURO DOS QUE ARDEM POR UM PASSADO MELHOR”

O anti-herói Viterley Phivo, rapaz de origem humilde em Pernambuco, vai parar em Brasília pelas mãos de uma família de políticos que empregam seus pais. No século vinte e dois, a capital brasileira é varrida pela poeira vermelha do cerrado arrasado e assombrada por gente que perdeu o juízo por exagerar nos estimuladores químicos e outros aparatos tecnológicos – verdadeiros zumbis.

O cenário mudou, mas o arcabouço político não. Frustrado em suas ambições pessoais, Viterley conhece “o Satanista”, figura controversa que o incentiva a se envolver em circunstâncias cada vez mais perigosas e arriscadas, em um processo que definirá os rumos da nação brasileira. Ele também se envolve com a sedutora Mirleyne, cujas verdadeiras intenções são uma incógnita. (Oasys Cultural)

UMA HISTÓRIA COMPLICADA? TALVEZ

De cara, essa história parece complicada. Afinal, olha o título! Além disso, os capítulos e parágrafos são longos e o autor usa termos que podem dificultar a leitura. Mas, aos poucos, Daniel vai desenvolvendo sua história de modo a torna-la muito interessante. É curioso como isso funciona. Porque de início, a forma como ele começa o romance pode afastar alguns leitores. Se der uma chance, contudo, ele pode ser rapidamente reconquistado.

Uma das razões pela qual eu classifico essa obra como complexa é que é uma distopia cheia de exageros. Seja em nomes, termos, siglas etc. E isso também poderia dificultar a leitura, mas não o faz. Isso porque o autor consegue narrar tudo com naturalidade, como se o leitor já soubesse de tudo isso (desse Brasil distópico) e ele está contando uma história que aconteceu nesse Brasil. Portanto, tudo certo por aqui.

A escrita do autor é instigante. Com bons diálogos, ainda que os capítulos sejam mais longos. Mas ele consegue consegue utilizar muito bem esse contexto distópico a favor da narrativa. Como leitor, digo com tranquilidade que me conquistou. Sem dúvida, há altos e baixos nessa história. É difícil encontrar uma leitura que te agrade 100% (e já vou falar mais sobre o que não me agradou tanto). Mas, certamente, me senti intrigado.

A CRÍTICA EM “O FUTURO DOS QUE ARDEM POR UM PASSADO MELHOR”

Mudando de assunto, logo de início, também já podemos perceber a crítica que o autor quer trazer, a discussão sobre o nosso presente (e passado) e o que queremos para o futuro, do país ou do mundo. Ele pega as questões sociais que hoje são ou deveriam ser mais debatidas atualmente e as coloca num contexto “exagerado”, até satírico. Mas não com o intuito de ofender qualquer discussão, mas de fazer uma reflexão sobre para onde estamos indo.

Apesar de ser tudo exagerado e satírico, a trama que envolve o livro é bem séria. Isso porque o autor nos apresenta um contexto político bem interessante, ainda que bem fictício, mas que se espelha no nossos sistema político, de certa forma. É bem interessante o jogo político envolvido, a conspiração, a possibilidade de uma guerra civil, acontecendo aqui no Brasil, num futuro distópico. E a escrita do autor só ajuda a tornar a leitura instigante e fluída.

O QUE ME INCOMODOU

Duas que me incomodaram um pouco. A primeira, é que tudo parece estar relacionado a sexo, identidade de gênero etc. Eu entendo a crítica que o autor quer trazer nesse ponto, mas acho que o exagero em colocar esse tema pode incomodar um pouco. E talvez seja essa a intenção, tipo “colocar o dedo na ferida”. Não é algo que atrapalhe a leitura em si, e não é uma coisa presente em cada página, mas é frequente.

A outra coisa é que o autor narra certas coisas como se fossem legítimos fatos históricos, só que de uma forma como se estivesse lecionando. Tipo uma aula de história. Isso acaba tornando a leitura mais densa. Contudo, é extremamente inteligente do autor. Por que é como se eles realmente nos inserisse nesse Brasil distópico que ele criou, e estivesse apenas contando fatos de nossa história. Mas não deixam de ser trechos em que a leitura não flui como o restante do livro.

“O FUTURO DOS QUE ARDEM POR UM PASSADO MELHOR” É PURA DISTOPIA

É surpreendente até onde esse livro chega. Uma surpresa muito positiva – acho que nunca li uma distopia criada no Brasil, o que é realmente interessante. E ele é descrito dessa forma, como uma distopia em sintonia com livros do estilo de “1984”. E acho que o leitor pode encontrar exatamente isso, sem se decepcionar, se estiver esperando uma história envolvente e criada num futuro que reflete bem, ainda que exageradamente, nosso país de hoje.

Mas devo dizer que as coisas esfriam mais para o final. O autor sabe criar uma expectativa no leitor, nos deixa ansiosos. Mas o ápice poderia ser melhor, ter mais ação. Em vez disso, o autor reserva esse capítulo para, na maior parte do tempo, descrever o debate de ideias que foram discutidas durante todo o livro, apresentar diferentes visões etc. Eu entendo isso, e é realmente interessante, mas não deixa de ser, também, um pouco cansativo.

Enfim, acho que entre muitos pontos positivos e poucos pontos negativos, o livro de Daniel Falcon Lins é um prato cheio para fãs de distopia e histórias reflexivas. Surpreende na medida certa, intriga e ainda entretém o leitor, que se diverte com tudo o que acontece. Dito isso, fica aqui minha indicação para vocês conhecerem essa obra e darem uma chance também. Eu recomendo muito!

Ficha técnica

O futuro dos que ardem por um passado melhor

Autor: Daniel Falcon Lins

Páginas: 215

Publicação Independente

Ano: 2020

Onde ler: Amazon (e-book)

Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

Deixe uma resposta