Sejam muito bem-vindos à nossa Locomotiva Literária. Depois de um tempinho sem resenhar (eu li vááários livros desde a última resenha, que eu também preciso resenhar), chegou a vez de falar sobre “Dias Perfeitos”, do autor brasileiro Raphael Montes. Como não poderia ser diferente, Montes soube me prender em sua história, tanto é que li esse livro em poucas horas, no mesmo dia. Comecei e terminei numa leitura só, de tão bom que é esse livro, ainda que, de certa forma, eu prefira seu outro livro “Suicidas”. Mas, ainda assim, Dias Perfeitos tirou meu fôlego de início ao fim. Vamos lá?
Bom, fazendo um resumo do livro: Téo, na casa dos 20 anos, é estudante de medicina, mas tem uma certa afinidade com a área de patologia, principalmente na dissecação de cadáveres das aulas de anatomia. Inclusive, uma personagem “importante” da história é Gertrudes, que ele conhece nessas aulas. Mas é Clarice, a jovem sonhadora e de espírito livre, que Téo fica fascinado, ao conhecer em churrasco que vai com a mãe, Patrícia, paraplégica. Antes disso ele tinha tido apenas uma namorada, mas não era muito fã dessa coisa namorar, de estar atraído por uma pessoa… mas Clarice mexe com ele, de uma forma que surpreende ele mesmo. O fascínio pela garota o faz agir praticamente sem pensar, ainda que tudo muito friamente calculado. E, então, numa manhã em que Clarice está prestes a viajar para se isolar e escrever seu road movie, seu pesadelo começa. O nome do roteiro é “Dias Perfeitos” (coincidência? Acho que não!). E é aí que está a ironia. Os futuros dias de sua vida podem ser tudo, menos perfeitos…
A partir desse resumão, posso começar a falar das minhas impressões dessa obra de Raphael Montes. Primeiro, quero dizer que já sou fã do autor e sou fã de sua narrativa, desde Suicidas, primeiro livro dele e primeiro livro dele que eu tive o prazer de ler. Confesso que a narrativa desse primeiro livro me surpreendeu bem mais, principalmente no fim. Mas, Dias Perfeitos tem suas peculiaridades, a começar pelo protagonista ser, nada mais, nada menos, que o antagonista da história. Ainda que a gente pense que Clarice, a mocinha, pode ter esse papel, é Téo quem ganha o foco de toda a narrativa. É, de fato, a história de um psicopata, mas da sua perspectiva. É a visão dele que está presente do início ao fim, explicando porque faz o que faz. Ele está apaixonado por Clarice. Mais do que isso, ele está fascinado por ela, pelo jeito dela, pela forma como ela leva a vida. E ele quer mostrar esse amor pra ela, nem que, para isso, tenha que prendê-la e sedá-la…
O que surpreende nesse livro é a calma e a frieza com que Téo lida com as coisas. Ele é muito metódico e a narrativa de Montes faz questão de mostrar isso, como ele planeja tudo, como, para ele, tudo o que ele está fazendo tem sentido. Ele só quer mostrar pra Clarice que pode fazê-la feliz, que seria um bom marido e um bom pai para seus filhos. Obviamente, não quero dar spoilers, mas o que ele faz, ainda que o autor deixe isso muito nas entrelinhas, para manter Clarice sob seu controle é surpreendente.
“Ele apenas fazia o que todos já tinham desejado fazer. Havia criado para si a chance de estar próximo de Clarice, de deixar que ela o conhecesse melhor antes do não definitivo”
Sobre cenários, a história em si se passa no Rio de Janeiro. Mas, logo depois que Téo sequestra Clarice (espero que isso não seja considerado spoiler, já que isso acontece logo no início), ele decide seguir o roteiro do road movie da garota, indo, primeiramente, para Teresópolis, em um chalé onde acontece a maioria dos fatos da história, passando por Ilha Grande e Paraty. O fato de esses cenários fazerem parte do roteiro de Clarice torna a história muito mais irônica, mas também muito bem planejada, já que a intenção de Téo é ajudar a garota, ele só quer o bem dela, e quer ajudar ela a continuar escrevendo seu roteiro, seguindo suas sugestões que ele tão carinhosamente dá.
Enfim, acho que já me prolonguei demais (como sempre haha). De qualquer maneira, posso dizer que o fim desse romance não é NADA do que eu esperava, sinceramente. Até terminar de ler as últimas palavras do livro, eu acreditava que ainda aconteceria algo diferente, algo que eu pensava que seria o fim. A verdade é que me surpreendi muito com a conclusão que Raphael deu para a história de Téo e Clarice. O jogo de palavras, a genialidade de Raphael ao construir a história, enfim… é realmente surpreendente, me tornei fã de sua narrativa e acho que não é errado considerar ele um especialista no gênero.
PS: Eu tenho até autógrafo do autor nesse livro e me orgulho muito disso <3
Enfim, leiam “Dias Perfeitos” e se surpreendam também! Espero que gostem tanto quanto eu. Agora me contem, quem já leu esse livro: concordam com minhas perspectivas? Discordam? Deem sua opinião e vamos conversar. Até a próxima!
Ficha técnica
Dias Perfeitos
Autor: Raphael Montes
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2014
280 páginas
[…] Se você quer saber o que achei de suas outras obras, é só clicar no título do livro (“Dias Perfeitos”, “Uma Mulher no Escuro” e “O Vilarejo”). Bom, sem mais delongas, acompanhe a resenha de […]