A Estrada Lincoln

Olá, tudo bem? Hoje quero falar sobre o livro “A Estrada Lincoln”, de Amor Towles. Livro de junho do intrínsecos, a história é uma espécie de road trip histórica, que se passa nos Estados Unidos de 1954. Então, espero que aproveite a leitura dessa resenha.

Na história, conhecemos o jovem Emmett Watson. Aos 18 anos, ele está de volta ao Nebraska depois de uma temporada em uma instituição juvenil, por homicídio culposo. Mas agora ele quer esquecer o passado. Tudo o que quer, mesmo, é pegar o irmão mais novo, Billy, e partir para a Califórnia. Afinal, não há mais nada que o segure na cidadezinha onde vive. A mãe os abandonou há muito tempo e o pai acaba de falecer.

O problema é que, quando chega em casa, após uma carona do tutor da instituição, ele descobre em sua casa os dois amigos do lugar: Duchess e Woolly. Eles fugiram da instituição com um plano em mente. Emmett não fica feliz com isso, mas não tem muitas alternativas. Assim, os quatro rapazes vão ter que conciliar seus diferentes planos para o futuro enquanto pegam a Estrada Lincoln, o que lhes renderá diferentes aventuras.

O DESENVOLVIMENTO DE “A ESTRADA LINCOLN”

Narrado de diferentes perspectivas e estilos de narrativa, esse é um livro que, logo de início, mostra a versatilidade do autor. Primeiro por apresentar uma história tão dinâmica e profunda, mas com uma narrativa que flui de maneira gostosa, conquistando o leitor. Existe um bom equilíbrio entre os diálogos e a narração, o que ajuda no desenvolvimento da leitura.

Essa versatilidade também está presente nas diferentes perspectivas. As partes de Duchess, por exemplo, são narradas em primeira pessoa e tem todo um tom de ironia em suas falas e pensamentos. Ele conversa com o leitor, mostrando muito de sua personalidade diferente. Já nas partes de Emmett, é uma terceira pessoa que conta sua versão dos fatos e tem um tom de mais seriedade, sabem?

Ainda falando do desenvolvimento, a história se passa em dez dias das vidas desses rapazes. Contudo, como é de se esperar, o autor não se limita aos acontecimentos desses dez dias. Ele volta muito ao passado deles, para mostrar como eles se tornaram essas pessoas do “hoje”. E por meio dessas viagens, percebemos como os quatro formam um grupo distinto e eclético, cada qual com suas características.

O PESO DOS PERSONAGENS NA NARRATIVA

Falando dos personagens, como disse, eles são muito diferentes uns dos outros, mas também têm semelhanças. O fato é que eles representam diferentes tipos de pessoas e com quem podemos nos identificar, ou não. Aliás, gosto como o autor trabalhou tão bem no desenvolvimento dos personagens. Conseguimos sentir e entender além do que ele narra. É um entendimento mais profundo sobre cada um.

Billy, por exemplo, é um garoto muito inteligente, engraçado e sincero. E muito importante para a narrativa, pois ele influencia muito Emmett e, com isso, o destino deles. A convicção do garoto de que eles podem encontrar a mãe é palpável. E é linda a construção da relação dos irmãos. Além disso, Billy influencia em todos os personagens – e não apenas os quatro protagonistas. É ele que, de alguma forma, os leva para seus respectivos destinos.

Também gosto do contraste entre as partes de Emmett e de Duchess. Seja pela diferença na forma de narrar, seja pelo fato de parecerem versões totalmente diferentes de uma mesma história. Pois nas partes de Duchess, os detalhes são mais ricos, fazendo com o que o leitor se sinta mais próximo dele. Já com Emmett, as coisas são mais sérias. Uma espécie de razão versus emoção, sabem?

Sem dúvida, Duchess não é aquilo que chamamos de “boa influência”. Ele demonstra ser um cara calculista, violento e perigoso. Mas ele também é vítima, como provavelmente todos os outros personagens. Mas é difícil gostar de Duchess, pelo menos para mim. Ele só atrapalha, para ser bem sincero. E eu não sei, mas fico com a impressão de que essa é a intenção do autor mesmo. Compreender Duchess, mas, ainda assim, não gostar de suas atitudes.

OS TEMAS ABORDADOS EM “A ESTRADA LINCOLN”

Enquanto nos aventuramos com esses rapazes pela estrada, Towles aborda diferentes assuntos. O primeiro ponto é a criação desses jovens, como as formas diferentes de educar cada um os moldou e os uniu. Mas o autor também retrata os anseios de jovens da década de 1950, influenciados exatamente pelo contexto cultural e histórico em que estão inseridos. Isso é muito bem trabalhado pelo autor.

Não deixa de ser, também, um momento de autodescoberta para eles. Para Emmett, que está tentando recomeçar a vida, para Billy e a expectativa de reencontrar a mãe, para Duchess que tem um objetivo em mente e faz de tudo para conquistá-lo e para Woolly, que tem suas próprias intenções, mais enigmáticas, mas, ainda assim, importantes. Todos eles trazem muitos ensinamentos para o leitor.

Por isso, acho adequado como o autor resolve escrever a história como uma contagem regressiva. São dez dias de viagem e ele começa no décimo e vai regressando, até o número um. Isso cria uma expectativa no leitor, do tipo, o que será que acontece quando essa regressiva acabar? É um sentimento de que algo vai acontecer e isso tem data pra acontecer. E isso está de fato ligado aos objetivos de cada personagem.

PARA CONCLUIR

No fim, acredito que é uma história de dois protagonistas: Emmett e Duchess. Em momentos diferentes, eles são antagonistas, se não de terceiros, de si mesmos. Mas o fato é que a obra acaba se tornando uma jornada de Emmett em busca de Duchess. E com isso conseguimos conhecer mais sobre ambos, como eles são parecidos e distintos ao mesmo tempo.

Enfim, esse é um livro intenso e uma jornada incrível. Amei conhecer Emmett, Billy, Woolly e Duchess. Cada  um com suas virtudes e defeitos, cada qual com sua história. Juntos, formam um grupo de pessoas que buscam algo para si, um futuro, um ideal. Uma escapatória para seus passados ou mesmo os seus presentes. Sem dúvida, uma história emocionante e que vale a pena a leitura.

Espero que tenha gostado dessa resenha e até a próxima!

Ficha técnica

A Estrada Lincoln

Autor: Amor Towles

Páginas: 576

Editora: Intrínseca/Intrínsecos

Ano: 2022

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Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

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