Olá, pessoal, tudo bem? Nosso papo hoje é sobre “A história de Shuggie Bain”, de Douglas Stuart. Esse foi o livro da caixa de outubro do intrínsecos. Apesar de uma leitura mais densa, a obra foi uma grata surpresa. Essa é a graça de um clube de assinatura, ao nos tirar da nossa zona de conforto. Esse é um livro que eu não escolheria comprar, mas eu estaria cometendo um erro ao não conhecer esses personagens. Portanto, vale a pena!
Na história, conhecemos Hugh “Shuggie” Bain, filho de Agnes e Shug. Eles vivem na Glasgow (Escócia) de 1981, uma época em que a cidade está morrendo. Agnes sempre sonhou em ter mais, mas essa não é a realidade em que vive. Quando Shug os abandona, ela precisa lidar com os três filhos numa região mineradora decadente. Contudo, o verdadeiro desafio de Agnes é a bebida, a qual ela se entrega diariamente.
Não é o que os filhos querem para ela, mas, um a um, eles também a abandonam. Shuggie, não. Ele fica, mesmo sendo vítima de abusos, bullying e abandono familiar. Afinal, ele não consegue evitar a própria feminilidade. E apesar de Agnes querer apoiar o filho, ela simplesmente não consegue largar o vício, o que afeta diretamente Shuggie, que assiste à mãe se deteriorando cada vez mais.
A ESCRITA E O DESENVOLVIMENTO DE “A HISTÓRIA DE SHUGGIE BAIN”
Douglas Stuart consegue desenvolver sua história de uma maneira que faz a leitura fluir, ainda que seja um pouco densa. Então, não é uma trama tão movimentada, enquanto o leitor vai conhecendo mais os personagens e se embrenhando em suas vidas. Ou seja, ao mesmo tempo que a leitura avança, ficamos com a sensação de que não vai acabar nunca.
Além da escrita do escritor, outra razão para isso é a história em si. São tantas coisas que acontecem na vida dessa família, principalmente com Agnes e Shuggie, que parece mais um calhamaço. Por isso digo que essa é uma história de muitas tramas, focadas nos personagens, mais do que um acontecimento em si. São eles que movem a história. E o ambiente em que estamos também influencia em tudo, essa Glasgow retratada por Stuart.
E como é uma trama focada nos personagens, nós conhecemos todos eles de diferentes pontos de vista. Praticamente todos os personagens têm um momento “para si”. São nesses momentos que conhecemos suas motivações, suas frustações e, claro, como também são vítimas, por diversas circunstâncias. Mas o foco, desde o início, parece ser mesmo Shuggie e Agnes. O que me leva a um problema.
A HISTÓRIA DE AGNES?
Em teoria, o livro deveria ser sobre a história de Shuggie, o filho de Agnes. Mas tirando a introdução, logo vamos conhecendo outros personagens da vida dele, principalmente Agnes, enquanto ele fica em segundo plano. Então, por meio de outros personagens, conhecemos mais de Shuggie, sua infância, seu jeito, suas dores por não se encaixar, por ser diferente e achar isso errado.
Isso pode ser interessante do ponto de vista de que percebemos que o próprio Shuggie vai se descobrindo também. Seu amor incondicional pela mãe e o fato de não abandoná-la, de querer ajudar ela, mostram quem de fato ele é. Ainda assim, sempre voltamos para Agnes e seu problema com a bebida. Ela arrasta todos para uma lama que ela insiste em ficar. Mas é um problema real, uma doença, que afeta e influencia todos ao redor dela.
E isso também afeta o leitor, sem dúvida. Porque é como se todos fossem cegos para os abusos que Shuggie sofre. Isso molda ele. E ele sofre tais abusos só por ser diferente, numa comunidade e tempo que o viam como uma aberração. E tudo o que Shuggie quer é ser “normal”, mesmo que “normal” não signifique ser quem ele é de fato. Isso é revoltante e triste de várias maneiras.
“A HISTÓRIA DE SHUGGIE BAIN” É PROFUNDA E EMOCIONANTE
Sem dúvida, pontos positivos e negativos colocados na mesa, essa é uma história emocionante, em muitos sentidos. Como é focada nos personagens, nós sentimos que conhecemos eles há muito tempo. E uma sensação muito positiva é que volta e meia você se pega pensando na jornada dessas pessoas. Do início de tudo, na sala da mãe de Agnes, todos os passos que eles deram, todos os destinos. Você consegue visualizar na mente todo o trajeto.
E isso só é possível por conta da escrita de Stuart. Por isso, além de profunda, por toda a discussão que traz, é uma história extremamente bem-escrita. Não dá para separar uma coisa da outra, esse livro só é incrível pela forma como o autor o narra. Em vários momentos, de forma indescritível, ele nos faz penetrar na mente de uma mulher sem rumo. Agnes é uma das personagens mais intrigantes que já conheci.
O que me leva à conclusão da obra (e dessa resenha). É incrível como o autor consegue nos fazer sentir várias coisas ao finalizar essa história. Tem um significado muito profundo, ao mesmo tempo que é uma incógnita. Tudo o que aconteceu com Shuggie pode levar ele a infinitos “futuros”. Uns muito ruins, outros bons. Eu sei, é ficção, mas espero que ele seja alguém que possa se aceitar. E viver.
Enfim, é isso. Como disse lá no início, talvez não seja um livro que você escolha numa livraria para ler, mas vale a pena, garanto. Espero que tenham gostado dessa resenha, e nos vemos na próxima!
Ficha técnica
A história de Shuggie Bain
Autor: Douglas Stuart
Páginas: 528
Editora: Intrínseca/Intrínsecos
Ano: 2021
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