Olá, pessoal! É com muito prazer que trago a resenha de “Jornal da Tarde“, de Ferdinando Casagrande. Um livro que, como o próprio nome indica, é um relato sobre a história do Jornal da Tarde, ou JT, um “braço” de O Estado de S. Paulo. Aliás, Casagrande foi um dos jornalistas que integrou a equipe do jornal, por um período, muito tempo depois de sua criação, é claro. Mas vamos com calma. Acompanhe a resenha e aproveite a leitura:
A HISTÓRIA DO “JORNAL DA TARDE”, DE FERDINANDO CASAGRANDE
Provavelmente, o Jornal da Tarde foi um dos pioneiros de uma nova forma de escrever um texto jornalístico. É claro, inspirado em uma prática que ganhava corpo nos Estados Unidos, conhecida como “new journalism“. Ferdinando Casagrande relata desde antes da criação do JT. E, então, mergulha pelas mais de quatro décadas de história do jornal, do início ao fim. O jornalista decidiu escrever o livro após sua saída do jornal – e a obra lhe rendeu o Prêmio Amazon de Livro-Reportagem.
Como disse, o autor começa sua obra com um histórico da família Mesquita, dona do jornal O Estado de São Paulo. E ele inclui uma série de fatos neste sentido, como a vinda de Giannino Carta, pai de Mino Carta, que mais tarde faria parte da criação do Jornal da Tarde. Ou seja, ele relata acontecimentos que levaram, inicialmente, à criação da Edição de Esportes, do Estado, que já tinha uma característica e linha editorial diferentes, mais inovadora.
Aliás, o autor também fala sobre a criação desse caderno. O que é uma narrativa muito interessante sobre a rotina dor jornalistas, diagramadores e fotógrafos para levar ao público um jornalismo esportivo diferente do que estavam acostumados a ler, com a inovação necessária. Na minha visão, esse relato inicial já nos instiga a continuar a leitura, pois é realmente muito interessante mesmo, inclusive para quem não tem contato com essa editoria (como eu).
UMA NOVA FORMA DE FAZER JORNALISMO NO BRASIL
Então, a narrativa de Casagrande vai tomando forma e crescendo. De maneira resumida e instigante ele chega à criação do Jornal da Tarde. Como isso aconteceu, desde a escolha do nome, até quem seria o responsável pela equipe, linha editorial etc. Ele explica que a intenção era trazer uma edição vespertina de um jornal para o público jovem, mesmo concorrendo com a televisão, que começava a ganhar mais espaço na vida dos brasileiros. E com a aproximação do jornalismo literário, na época em ascensão nos EUA.
Dessa forma, o jornalista relata, fielmente o processo de criação do jornal que, naquela época, era o mais criativo e diferenciado. E isso, claro, demandou muita pesquisa e entrevistas. Mas, mais do que isso, ele mostra como os envolvidos nesse processo estavam entusiasmados com o JT. E depois de sua criação, como era empolgante trabalhar nele, que começava a ganhar notoriedade no país. Obviamente, isso também contribuiu para as mudanças que foram surgindo, que Casagrande também relata fielmente.
A ESCRITA INCRÍVEL DE CASAGRANDE
Aliás, que escrita incrível de Ferdinando Casagrande. Confesso para vocês que apesar de amar, nunca consegui desenvolver uma leitura de um livro sobre o jornalismo ou livro-reportagem como eu queria. A leitura simplesmente empacava, ainda que eu persistisse. Mas não foi isso que aconteceu com “Jornal da Tarde”. O autor tem uma escrita instigante, curiosa, e consegue nos passar exatamente a sensação daqueles jornalistas enquanto criavam o JT.
Nos dá a sensação de estarmos lá, mas reuniões, no meio das redações, naquela SP dos anos 1960 em diante (e com uma ditadura no encalço). Mas ele não necessariamente conversa com o leitor, como geralmente acontece em livros que têm uma narrativa mais ágil, por assim dizer. Porém, é como se nós estivéssemos sentados num café e ele estivesse contado essa história, que é um capítulo do jornalismo brasileiro. E por isso a leitura é rápida, ou pelo menos foi pra mim.
OS PROBLEMAS COMEÇAM A SURGIR
Voltando ao JT, o autor também mostra que, inicialmente, o intuito do JT era inovar e ser diferente dos “tradicionais” jornais, principalmente no chamado “lide”, que é o começo da matéria. No entanto, ao longo do tempo, o jornal se tornou um negócio como qualquer outro, visando lucro e tendo prejuízos. O que certamente foi prejudicando aquele sonho de ser inovador. Obviamente, a “queda” do JT também está ligada à ascensão das novas tecnologias e de outras ideias inovadoras, sejam elas questionáveis ou não.
Mas há a influência da família Mesquita, que, provavelmente, também contribuiu para o fim do jornal. Porque mesmo em meio ao sucesso de capas memoráveis, das manchetes ousadas e das sacadas incríveis que o JT proporcionou, ainda assim ele precisava vender. E quando isso foi deixando de acontecer, mudanças drásticas vieram, necessárias ou não, para tentar retomar o fôlego do início do periódico. Quando, aliás, não havia concorrentes do mesmo “nível”, por assim dizer.
Dentro desse contexto, é interessante citar que Casagrande nos dá uma noção muito interessante das idas e vindas no JT. Ele fala de todas as transições e fases do jornal. Quem entrava, quem saía e quem voltava. Além disso, o autor relata fatos marcantes do Jornal da Tarde, como a manchete envolvendo o casamento de Pelé, a capa que só tinha um local, uma data (Barcelona, 5 de julho de 1982) e a foto de um menino triste, que representavam tudo o que eles queriam dizer. Sem falar na capa toda preta, envolvendo o movimento “Diretas Já”.
A FALTA DE MULHERES NO JT
Um fato que me chamou atenção foi a falta da presença feminina. Todavia, isso está ligado muito ao fato de que, naquela época, isso era “normal” em várias profissões, não apenas no jornalismo. Mas era de se esperar que, sendo um jornal tão inovador, como de fato foi, as mulheres ganhassem mais espaço. Ou não? Enfim, é claro que isso envolvia vários fatores históricos e culturais daquela época. E só após a década de 1980 é que isso começou a mudar, o que faz sentido com as mulheres ganhando mais espaço no mercado de trabalho.
Além de sentir falta de um relato do autor sobre isso, especificamente, também senti falta de imagens que ilustrassem o livro, principalmente das capas históricas. Mas o Google ajuda, nesse sentido. Não sei se havia algum problema legal envolvendo essas imagens, porém, é fácil achar algumas dessas capas na internet. Pois essas imagens, na minha concepção, ajudam a visualizar toda o processo de criação do Jornal da Tarde e seu papel no jornalismo.
O FIM DA HISTÓRIA DO “JORNAL DA TARDE”, DE FERDINANDO CASAGRANDE
Agora, sobre o fim. De fato, chega a emocionar, devo confessar. Não me recordo do JT, além do que soube durante a faculdade de jornalismo e posteriormente. Mas é difícil você ler o relato do fim de um sonho inovador, que marcou tantas pessoas. E que foi inspirou tantos outros projetos. Entretanto, Casagrande, novamente, conta fielmente o fim do jornal. Inclusive o processo para saber qual seria a capa final – que resultou na emblemática edição de 31 de outubro de 2012, com a foto de São Paulo e as palavras “Obrigado, São Paulo”.
Enfim, acho que isso era tudo o que eu tinha pra dizer sobre “Jornal da Tarde”, de Ferdinando Casagrande. Um livro que me mostrou como o jornalismo é incrível e como seu papel é de extrema importante na sociedade. Mas também me ajudou a entender o processo de criação de um jornal. E as influências que ele sofre no decorrer dos anos. Mais do que isso, me mostrou como o JT era formado por jornalistas jovens, em busca de um sonho, que representavam o entusiasmo, a empolgação e o encanto do jornalismo.
Sem dúvidas, uma obra incrível e que eu indico demais. Não apenas para quem é jornalista, ou para quem é estudante de jornalismo. Mas também para quem gosta de conhecer parte da história do nosso país. E o Jornal da Tarde, de fato, fez parte dessa história. Espero que tenham gostado dessa resenha. Até a próxima!
Ficha técnica
Jornal da Tarde
Autor: Ferdinando Casagrande
Páginas: 364
Editora: Record
Ano: 2019
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