O fim dos homens

Olá! Hoje trago a resenha do livro “O fim dos homens”, de Christina Sweeney-Baird. Lançamento de 2022 da Verus Editora, o romance de estreia de Christina traz uma história intensa sobre o mundo envolvido em caos devido a uma pandemia. Portanto, desde já, aviso que é um livro que pode conter gatilhos – visto o que vivenciamos na pandemia muito real. Então, espero que aproveite a leitura dessa resenha.

Sinopse: Escócia, 2025. Epicentro de um vírus misterioso e mortal, mas que afeta apenas os homens. As mulheres carregam o vírus, mas não ficam doentes. Aliás, a médica Amanda MacLean é a primeira a perceber o tamanho do problema. Contudo, ninguém acredita nela, em especial as autoridades de saúde. Até que é tarde demais e o vírus se espalha pelo mundo todo, tornando-se uma pandemia global. Em poucos meses, a Terra se torna um mundo de mulheres.

Mas essa não é apenas uma guerra biológica, já que envolve política, interesses pessoais e a descrença nas mulheres. Então, várias mulheres começam a narrar, de diferentes perspectivas e lugares do mundo, as consequências do vírus. Além de Amanda, conhecemos Catherine, uma historiadora social; Dawn, uma agente de inteligência; Elizabeth, uma das cientistas que buscam uma vacina; entre outras. E fica a pergunta: como seria o mundo sem os homens?

O DESENVOLVIMENTO DE “O FIM DOS HOMENS”

O livro é narrado de diferentes perspectivas. Isso é uma boa decisão da autora, pois ela consegue trazer um panorama diversificado do alcance da pandemia – do início ao “depois”. Contudo, tal como a trama do livro, são perspectivas majoritariamente de mulheres. Afinal, não há muitos homens restantes para narrar como eles enfrentam a doença. A autora até coloca essa perspectiva, mas é ínfima.

Aliás, Christina consegue trazer visões diferentes de múltiplas mulheres em diferentes posições. Politicamente, cientificamente, “popularmente” e jornalisticamente. Essa última perspectiva não é tão frequente, mas é crucial para o desenvolvimento do livro. Exatamente porque, durante uma pandemia, é fato que a mídia ganha uma dimensão diferente, e acredito que a autora consegue trabalhar isso muito bem.

A “fórmula” para construir esse romance, no meu ponto de vista, é a mesma de livros do gênero ou da nossa própria realidade. A descrença, a utopia do governo de que está tudo sob controle, o caos geral que logo se espalha pelo mundo, o desenvolvimento da primeira vacina, e o que vem depois. São etapas “clássicas”, e que vivenciamos em nossa realidade, mas bem desenvolvidas pela autora.

O ANTES E O DEPOIS DA PANDEMIA

Christina inicia esse livro com os momentos antes da pandemia. As pessoas com seus problemas “comuns”, sem a expectativa de que um vírus mortal está prestes a se espalhar mundialmente. Até que acontece. Temos essa visão de dentro de um hospital, os primeiros casos sendo descobertos, sua força e como, curiosamente, atinge apenas homens. E, aos poucos, as coisas vão progredindo, o vírus se espalha, exatamente como acontece na vida real.

Para o leitor, a autora consegue transmitir o caos que vai se formando no mundo de uma maneira difícil de não se afetar. Aliás, acho que isso traz um choque de realidade forte para quem lê. Pois, desde o início, o livro parece uma cópia da nossa realidade. E acho que isso ganha um impacto maior quando descobrimos que a autora iniciou a escrita desse livro antes da “nossa” pandemia.

“O FIM DOS HOMENS”?

A ideia de abordar “o fim dos homens” é inteligente. Isso porque implica em um caos ainda maior, pois não é possível medir até que ponto o mundo está preparado para isso. Como a autora deixa muito claro, muitas profissões, hoje, ainda são exercidas majoritariamente por homens. Isso impõe uma “pressão” maior no papel das mulheres – uma coisa que fica clara desde o início.

E é aí que entra a inteligência da autora em descrever como é esse mundo sem os homens. Será que eles são essenciais para manter a sociedade? E esse questionamento tem um impacto também. Outro ponto de vista é o fato de as mulheres também transmitirem, mas não serem afetadas pela doença. É como transformar elas em armas. Pelo menos numa analogia mais exagerada, isso traz um simbolismo forte.

Contudo, Christina também dá voz para os homens que sobrevivem ao vírus. Aqueles que são imunes, claro, mas também aqueles que se mantiveram afastados da doença, reclusos em casa. E, pela perspectiva desses homens, verificamos aquelas teorias conspiratórias de que não passa de um plano arquitetado pelas mulheres para dominarem o mundo etc. Ou seja, mesmo um absurdo como esse é abordado pela autora.

O QUE VEM DEPOIS

Christina também pensa no “depois”, em como a humanidade tem que se adaptar para um mundo em que a maioria é mulher. Uma coisa que me pegou foi exatamente o relato de um rapaz que sobreviveu: ele destaca que, quando as pessoas falam sobre “pessoas”, elas querem dizer mulheres, pois elas são a maioria – nesse universo do livro, claro. Assim, as coisas se transformam em um mundo para mulheres – em diferentes perspectivas.

Sem dúvida, é um livro emocionante, simbólico e surpreendente. E entre os temas que discute, um me chamou atenção: a maternidade. Acho que o papel de ser mãe é muito bem explorado pela autora. Pela perda que as mães sofrem, pelas vitórias, pelo abandono, pela superação. Enfim, para mim, é uma amostra dos desafios desse papel de ser mãe – e, nesse caso, em muitas famílias, também ser pai.

Então, é isso. É uma história intensa, como disse desde o início, mas que vale a leitura. Fica minha indicação. Até a próxima!

Ficha técnica

O fim dos homens

Autora: Christina Sweeney-Baird

Páginas: 420

Editora: Verus

Ano: 2022

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Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

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