Olá, leitores. Como estão? A resenha que trago hoje é de um livro intenso e profundo que recebi da nossa parceira Oasys Cultural. Isso porque estou falando de “Segure minha mão”, de Guille Thomazi. E eu não poderia concordar mais com a descrição que recebi do livro: audacioso e arriscado. Mas o resultado é muito positivo e emocionante. Enfim, aproveitem a leitura:
A HISTÓRIA DE “SEGURE MINHA MÃO”, DE GUILLE THOMAZI
Tudo começa com o nascimento de duas crianças, numa cabana, em um país estrangeiro. É Ekaterina, uma refugiada, quem dá à luz em uma pradaria cercada de lobos. Uma das crianças morre no parto. A outra, uma menina, sobrevive. Mas é acometida por uma anomalia genética, o nanismo primordial. O pai da criança é Olek, um homem gago e epilético que auxilia no parto. Ekaterina fica abalada emocionalmente após o parto. E foge.
Então, começa a verdadeira jornada de Olek em busca da mãe da filha, que não sabe da sobrevivente. Mais do que isso, Ekaterina carrega dentro de si a possível cura para a filha. Contudo, ela desaparece. E Olek vasculha em cada canto de uma terra devastada por guerras. E aqui, novamente, faço das minhas as palavras que descrevem esse livro: “É uma história de violência e afeto, desespero e conforto, mas sobretudo de bravura e dignidade. Uma ode à decência em meio à deterioração humana.”
MINHA EXPERIÊNCIA DE LEITURA E A NARRATIVA
Confesso para vocês que é um pouco difícil para mim começar a descrever a experiência de ler esse livro. Primeiro porque, como disse no início, é uma história intensa e profunda. Eu não imaginava o que iria ler no decorrer das páginas. Mas o fato é que o autor já começa sua história mostrando a que veio. Apresentando o mote do livro, a busca de Olek e as condições hostis em que se ambienta essa história.
A narrativa tem poucos ou quase nenhum diálogos, e os capítulos são longos. Decerto, isso pode dificultar um pouco a leitura. Apesar disso, a escrita do autor é excelente, rica em vocabulário, ainda que densa. Mas é algo que combina com a história em si, que, ao mesmo tempo, ajuda a desenvolver a leitura. E a escrita do autor, quase poética, é o que me surpreendeu, ao longo das páginas. Como as palavras pareciam flutuar conforme eu as lia.
UMA HISTÓRIA QUE PRENDE O LEITOR
A verdade é que a história prende o leitor, mesmo com a escrita mais densa e poucos diálogos. Mas o mais importante pra mim é que o autor consegue te transportar pra esse cenário hostil que ele criou, que é quase ou totalmente parecido com os cenários de guerras que tão bem conhecemos ao longo da história. Ele consegue te fazer visualizar e sentir tudo aquilo que Olek está passando, sentindo e vendo.
Além disso, tem várias sequências bem interessantes e sufocantes, que parecem cenas de um filme. Nesse caso, o autor não te deixa respirar enquanto não terminar de relatar o que aconteceu. Pra mim, parece também como alguém recontando toda essa história pra você. E, de fato, o autor dá a entender que é mais ou menos nessa linha. Como se estivéssemos ouvindo, e não lendo, essa história de uma terceira pessoa.
Ainda nesse sentido, preciso dizer que os momentos em que Olek está no meio do fogo cruzado da guerra, com tiros voando para todos os lados, mortes e outras coisas comuns à guerra, são muito bem descritos pelo autor. São momentos ricos em detalhes e de tirar o fôlego. Novamente, foi como se eu estivesse assistindo a um filme. Eu diria que isso é o ponto alto da escrita do autor.
O CENÁRIO HOSTIL DE “SEGURE MINHA MÃO”, DE GUILLE THOMAZI
Como já citei, estamos num cenário totalmente hostil. A própria cabana em que Olek e a família vivem faz parte disso, principalmente de uma família refugiada que pode contar com muito pouco, somente aquilo que produz. E esse desafio é bem descrito logo no início, quando a filha que sobreviveu não tem o que comer, uma vez que a mãe foi embora. E nesse ponto, preciso destacar novamente a audácia do autor, e só quem leu ou vai ler vai entender.
Mas voltando a falar de cenário hostil, o que mais me impactou foram as cenas de batalha e fogo cruzado que Olek precisa enfrentar, tudo em busca da mãe de sua filha. É de arrepiar, ao me lembrar essas cenas. Os tiros, que quase ecoam em minha cabeça, mesmo sendo disparados apenas em palavras; ou o sangue derramado, que é quase possível sentir o cheiro. Enfim, tudo isso me levou a perceber quão pouco sabemos das guerras que o mundo enfrentou e enfrenta, quantas vidas foram perdidas e os traumas que elas deixam em quem sobrevive.
E falando de guerra, eu entendo que, aqui, nesse livro, ela é como se fosse um outro personagem. Neste caso, ela é antagonista da história. Porque é ela quem dificulta a jornada de Olek. É ela que está sempre em seu caminho. Mas é também a guerra o centro de tudo o que ele procura. E nesse meio conhecemos a crueldade dessas batalhas. Ao mesmo tempo, não deixa de ser uma narrativa interessante, nos situando nesse cenário hostil.
OS PERSONAGENS
Sem dúvida, outro ponto alto desse livro, com certeza, são os personagens. Olek é o principal. A história gira em torno dele. E Thomazi consegue descrever muito bem o tipo de homem que Olek é. Ele é o tipo de cara amoroso e apegado, mas bruto. Que faz tudo por quem ama, que demonstra. É um homem de coração bom, mas que sofre muito no decorrer do livro, física e emocionalmente. As lutas que ele precisa enfrentar são de tirar o fôlego.
Mas Olek sobrevive. Ele não morre. Mesmo com todas as provações. Isso é o que mais me surpreendeu. Principalmente porque não ficou algo forçado, como se levasse o leitor a pensar: “nossa, acho que esse cara tem sorte demais”, ou algo do tipo. Não, na verdade, o fato de ele sobreviver mostra sua perseverança, sua determinação e seu amor. Sua vontade de esgotar até a última gota de esperança para conseguir encontrar quem precisa encontrar para salvar sua família.
Enfim, outra personagem que eu destacaria é a própria Ekaterina. Conhecemos e sabemos pouco dela. E é esse enigma que ajuda a mover a história, também. Além disso, temos Hinde, uma mulher que vive com a família, e que ajuda no parto. Contudo, não dá pra entender bem sua relação com eles – eu, pelo menos, não encontrei qualquer referência disso. Mas ela é igualmente forte, cuidando de Dannika (a filha) enquanto o pai está fora procurando sua salvação.
OS DESAFIOS DA PATERNIDADE/MATERNIDADE
“A maior dificuldade da paternidade é aprender a viver com o coração fora do peito”. Essa é uma frase do livro. E de fato resume bem um outro ponto dessa história, que pode ou não ser a trama principal. Não sei, ao certo. Mas o fato é que Thomazi consegue nos descrever de uma forma profunda os desafios da paternidade; de se criar um filho e de se fazer tudo o que estiver ao seu alcance, até o impossível, para o bem dele.
Assim como mostra o outro lado, de Ekaterina. Primeiro que ela nem sabia que havia dado à luz duas crianças. Mas o trauma do parto e da perda de uma criança foi tão grande que ela não aguentou e fugiu. Então, esse é um outro ponto que o autor acaba colocando em discussão, sobre como são esses partos em ambientes hostis como tal e como esse processo pode ser, e geralmente é, traumatizante.
Mas ainda em se tratando de paternidade, devo destacar a relação de Olek e Lyuben, um garoto que ele encontra durante sua jornada. É uma relação muito bonita e emocionante, de muito afeto, como um encontro necessário, que remedia ambos. É, na minha visão, o centelho de esperança que permeia cada página. Mas, que novamente, reforça tudo o que já conhecemos de guerras que, diariamente, deixam consequências terríveis.
“SEGURE MINHA MÃO”, DE GUILLE THOMAZI, É UMA HISTÓRIA DE BRAVURA
Sem dúvida, e assim desejo finalizar essa resenha, essa é uma história sobre a bravura de um homem. Que tenta, com todas as forças que a vida lhe deu, todos os traumas que precisou passar, sobreviver. Simplesmente. Mas, mais do que tudo, essa é uma história carregada de profundidade. Eu diria pesada mesmo, no sentido figurado. No entanto, pra mim, ela é muito importante e necessária.
Por fim, devo dizer que me emocionei lendo esse livro, principalmente as últimas páginas. É de dar um aperto no coração, de sentir todas as emoções de Olek e se colocar no lugar dele. Isso é o que mais vai ficar marcado em mim, pelo menos: a necessidade de nos colocarmos no lugar de outra pessoa, de tentar entender porque ela faz tudo o que fez e porque decidiu seguir por esse caminho.
Então, é isso, pessoal. À Oasys, como sempre digo, meu agradecimento por mais essa leitura, de me tirar da zona de conforto e me fazer sentir tantas coisas. E ao autor, agradeço a oportunidade de ler um livro tão profundo como esse. Confesso que me deixou bastante reflexivo. Enfim, espero que tenham gostado dessa resenha e até a próxima!
Ficha técnica
Segure minha mão
Autor: Guille Thomazi
Páginas: 248
Editora: Patuá
Ano: 2020
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