Criei você e recriei milhões de vezes, milhões de pedacinhos teus em minha mente, para te trazer mais perto, para que nunca me esquecesse do quão belo és. Uma partitura, uma canção há muito tempo guardada, engavetada, mas que estava ali para ser tocada… empoeirada, amarelada, amada. A sinfonia da alma, a ventania do tempo, as cinzas deixadas para trás num sopro, cada memoria engaiolada, intocada, nua, crua, delicada. Espólios. Eu senti frio quando permiti que voltassem para meus braços, mas tão acolhida por que me trouxeram você, por que me reviveram com você dentro de mim.
Então o piano velho voltou a tocar, a nossa musica, e ela dizia: eu quero ser seu. E era como a noite observar nascer o dia, a escuridão ver a luz ser criada, era como estar em teus braços naquela noite dançando, e eu podia morrer, mas não era nada sem a melhor parte de mim segurando minhas mãos.
Tudo sonho, eu estava tão intoxicada que era quase impossível respirar, algo tão claro sendo deixado de lado pela simples incapacidade de desviar o olhar.
Todas elas voltaram para a gaveta, por mais um dia.
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