O meu caminho torna-se cada vez mais solitário, pois estou cansado das muitas tentativas frustradas. Começo a pensar que o isolamento e a abdicação do amor é a saída desse mar de lágrimas que me vejo agora. As percas tornaram cíclicas; parece que elas tem um tempo predeterminado para ocorrer. Sempre a mesma história se repetindo a cada ano, sempre a mesma angústia que aperta o coração, sempre aquelas lágrimas silenciosas que rasgam a face como lâminas no cair da noite, sempre a cabeça ausente no travesseiro ao lado, sempre o calafrio da carência por um abraço torturando o meu corpo. Estou cansado, a idade não me permite mais sonhar, cansei de ser objeto de desejo voluptuoso, sendo que meu olhar sempre idealiza um amor eterno, uma casinha com varanda, uma tarde chuvosa juntos fazendo cafuné; uma história de conquistas, de construção, apenas um amor de verdade, que se prolongue por entre os anos. Mas não, os outros não vêem da mesma forma, sou apenas um objeto descartável, um corpo para saciar seus sórdidos desejos e depois me deixar. Cansei dessa superficialidade, cansei das palavras supérfluas e promessas vazias. Quero apenas me perder em mim mesmo como um romântico solitário, preso em meus delírios. Cansei das lágrimas, da carência de um abraço, do idealismo bobo e da projeção em pessoas que não valem a pena. Não, eu não permitirei mais brincarem com minhas lágrimas, não mais sangrarei, fecharei-me num jazigo de silêncio, de apatia, de frialdade, caminharei perdido pelos meus sonhos, pelas ruelas do cemitério de meu coração e como sepulturas da saudade, tornarei minha carência em poesia noctivaga. Sou apenas um renegado do amor, um ser amaldiçoado a viver em mim mesmo. Portanto, afastai o forasteiros que tenhais a audácia de adentrar em meu santuário, não conseguirais entrar na necrópole de meu coração, se continuardes a tentar adentrar em minhas feridas, com certeza sofrerais uma terrível punição. Então retirai-vos e deixai-me solitário em minha cripta existencial.
por #FratoStruktoro