Olá, pessoas. Que tal uma viagem até Nápoles, na Itália? Pois esse é nosso destino de hoje com a resenha de “A Vida Mentirosa dos Adultos”, de Elena Ferrante. Esse foi o livro de junho do Intrínsecos, e minha primeira leitura da autora. E confesso que no fim, fiquei em um misto de “alívio” por ter terminado e um gosto de “quero mais”. Bom, acompanhem:
A obra narra a história de Giovanna, ou Giannì, mais ou menos a partir dos 13 anos. Nápoles, como disse, é o cenário, ambientada na década de 1990. Tudo começa quando Giannì ouve o pai em uma conversa com a mãe dela em que compara a garota à irmã dele, Vittoria, tia de Giovanna. E a imagem que ela tem da tia é simplesmente a pior do mundo, principalmente em relação à beleza, e isso a abala muito. E a partir daí, muita coisa muda, principalmente com a curiosidade de Giannì com a tia, uma figura que sempre foi afastada da família.
Logo de início, vemos uma garota entrando na adolescência e todos os problemas e situações que vem com isso, a insegurança, a preocupação com a beleza. Tudo ainda mais intensificado com a fala do pai com quem a menina tem certa proximidade, ainda que ele seja um cara estudioso e mais “centrado”, digamos assim, diferente da mãe mais “amorosa”.
Mas essa é uma importante discussão que a autora faz, mostrando a insegurança de uma jovem de desabafar com os pais, perguntar, conversar. E como nem sempre há essa abertura e como isso pode ser frustrante para uma pessoa que está se descobrindo. Acho que Elena consegue esmiuçar de uma forma muito interessante a adolescência de muitas pessoas, essa transformação que sofremos, no corpo, nas ideias, sexualmente etc.
Outra coisa é que a autora explora muito bem essa relação adolescente x adulto, de desafiar mesmo essa vida mentirosa que muitos parecem viver, fazendo isso enquanto detalha a vida adolescente de Giannì, tanto a parte rebelde do jovem, que tão bem conhecemos, seja por experiência própria, seja nos livros e filmes, como também os problemas na escola, a primeira paixão, aquela vontade de ser independente.
Enfim, isso tudo é muito bem descrito no papel de Giovanna, que é por si só uma garota muito sensível e inteligente. E o conceito do livro é exatamente essa desconstrução da vida adulta, colocada de uma maneira inteligente, ainda que “óbvia”, pois é o que vemos em muitas famílias hoje em dia. Mas para uma criança saindo da infância e indo para a adolescência, é algo que influência muito na vida dela.
Outro ponto muito importante e interessante é a relação de Giannì com a tia Vittoria, consagrada por algumas reviravoltas. Tia Vittoria, da forma como nos é descrita pela própria Giovanna, narradora do livro, é uma pessoa muito amarga, mas ao mesmo tempo muito esperta e sagaz. E a relação das duas mostra como são complicadas as relações familiares, principalmente as marcadas por rancor e brigas.
Essa relação também demonstra o contraste de classes entre Vittoria e Giannì. A garota nasceu e foi criada num ambiente de classe média, em Nápoles, numa região mais “nobre”, enquanto Vittoria é da periferia da cidade italiana, revelando as origens do pai de Giannì e como ele se afastou da vida da irmã, daí a imagem criada de Vittoria como uma pessoa perversa. Mas esse contraste geográfico está evidenciado pelas atitudes de ambas personagens, como também nos personagens que estão ao redor delas.
Enfim, por fim, quero falar um pouco da autora. Elena Ferrante e sua escrita eram um mistério pra mim. Nunca tinha lido nada, mas já tinha ouvido falar. Mas só agora fui descobrir que Elena é um pseudônimo de uma pessoa que ninguém sabe quem é. E achei isso muito intrigante. Enfim, não conheço seus outros livros, mas acho que ela conseguiu transmitir com naturalidade aquilo que pretendia, sem que sua imagem, em sua própria visão, precise ser exposta. Mas sua mensagem está aqui, e nos atinge.
E é isso. Vejo que Elena consegue trazer uma personagem característica dessa geração, que hoje chamamos de Millennials, colocando suas características, dramas e sensações de uma forma muito sensível e ao mesmo tempo de uma forma intensa, de nos deixar pensativos e nostálgicos, até, sobre nossa própria adolescência, sobre as atitudes que tomamos e que com certeza influenciaram em quem somos hoje.
Mas no fim, como disse lá no começo, não consigo evitar a sensação de que eu queria mais… mas nem sempre mais significa que era necessário. Era só minha tristeza de ter que deixar Giannì…
Espero que tenham gostado da resenha. Até a próxima!
Ficha técnica:
A vida mentirosa dos adultos
Autora: Elena Ferrante
Editora: Intrínseca/Intrínsecos
Ano: 2020
430 páginas
[…] neste mês pela Intrínseca, mas chegou antes aos assinantes do Intrínsecos (tem resenha, clicando aqui!). A tradução é de Marcello Lino. […]