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Olá, leitores. Estou de volta para falar com vocês sobre o livro de maio do clube Intrínsecos: Um lugar bem longe daqui, de Delia Owens. Um livro extraordinário, emocionante e muito, muito surpreendente. Mas não quero relevar tudo já de cara. Vamos devagar. Primeiro, preciso lembrá-los que fiz um unboxing da caixa desse livro aqui no blog (clique aqui e confira). Eu não imaginava o que me esperava quando li aquela sinopse. Bom, sem mais delongas, vamos ao que interessa.

Resumindo o livro, como de praxe, conhecemos Kya Clark – uma garota que vive no brejo junto de sua família, que não dura muito. Aos seis anos, ficou sem a mãe e os irmãos, restando apenas o pai durão, que não a trata como deveria – uma filha. Pouco tempo depois, aos dez anos, já não lhe resta mais ninguém, todos a abandonaram. Mas é preciso situar onde e quando estamos: Carolina do Sul, anos 1960. Época em que a sociedade era preconceituosa sem doer a quem e, obviamente, os olhos dessa sociedade preconceituosa não conseguem enxergar Kya diferente do que ela é: a Menina do Brejo, sinônimo de sujeira e doenças, pelo menos para essa sociedade.

Bem, essa é a maior lição que a autora nos passa. Kya Clark é a menina do brejo e não há problema algum nisso. Mas há um assassinato que também ronda a trama enquanto a autora descreve o crescimento da garota, sozinha, no meio dos pássaros, com apoio de poucos, mas sobrevivendo. Narrado em diferentes anos e perspectivas, Owens nos mostra a vida dentro do brejo, principalmente para uma criança sozinha, e a investigação do homicídio, muito suspeito.

Ok, “resumo” feito, vamos, de fato, à resenha. A narrativa é em terceira pessoa, divida em diferentes perspectivas e anos, conforme falei. Não é um livro de muitos diálogos, principalmente nas partes em que o foco é Kya. Acho que a primeira coisa que gostaria de destacar é que como a autora consegue nos conectar com a natureza em que se passa a história, principalmente na narração da vida de Kya.

A autora insere, em momentos específicos e adequados, fatos científicos sobre a natureza, que percebemos que são reais, tornando o livro ainda mais impactante e intenso. Delia consegue nos mostrar um pouco de seu conhecimento, de anos de estudo, dentro da ficção de uma forma muito inteligente, que reflete em Kya. A garota é inteligentíssima, ainda que não tenha frequentado a escola (apenas um dia, aliás…). Mas ela ouve, observa e aprende muito com a natureza. É assim que ela sobrevive – o que me leva ao próximo ponto.

Que garota forte é Kya. Como adiantei, ela é abandonada por quase toda sua família aos seis/sete anos. Não dura muito, o Pa (seu pai, o único que havia “ficado”), também a abandona, isso aos dez anos. Mas mesmo antes, quando só havia restado o pai, ela já tinha aprendido a sobreviver, com alguma ajuda, é preciso destacar. Mas o trabalho duro é todo dela. Ela aprende a pescar, a vender, conhecendo as disputas de mercado, enfim. É nessas andanças em busca da sobrevivência que ela conhece Tate, um menino que me surpreendeu muito.

Confesso que tinha um certo receio quanto ao garoto. De início, achei que ele poderia ser mais uma criança preconceituosa que nos é mostrada na obra, mas não. Ele é sensacional e carinhoso. Talvez solidário não seja a palavra mais adequada, pois o que ele faz por Kya é muito mais do que um ato de solidariedade. Como é uma menina abandonada, Kya também tem certo receio ao se aproximar de Tate. Mas, aos poucos, percebe que a alma dele é bondosa, até que ponto, não sabemos. Mas é ele quem a ensina a ler e toma conta da garota por certo tempo.

Mas há um outro garoto: Chase Andrews. Isso pode ser um spoiler, mas é algo revelado na primeira página, então, não me matem, por favor. Pois bem, Chase Andrews é a vítima em questão. Ele é encontrado morto logo no começo do livro, mas não nos é revelado muitos detalhes. Depois já conhecemos o brejo e a vida de Kya. É só mais para frente que conhecemos as circunstâncias da morte do Chase. É aí que começam as diferentes narrativas, de antes e depois de determinados acontecimentos. Uma dessas narrativas é a investigação do assassinato dele, já adulto. Mas ele também foi peça importante na vida de Kya, na adolescência. Mas não posso e nem quero revelar além disso…

Preciso voltar a falar de Kya e sua força. Não é muito uma surpresa que, quando abandonada, ela consegue se tornar independente muito rapidamente. Acho que esse é o ponto alto desse livro, mostrando como uma garota pode ser forte dentro da natureza, porque ela encontrou seu lugar lá. Ser a menina do brejo não é uma ofensa, é um elogio, se conhecemos Kya. Ela consegue absorver tudo de ruim que aconteceu em sua vida e transformar em algo bom para si, para sua vida. E não é surpresa quando ela desconfia das pessoas, prefere ficar sozinha. Principalmente depois do coração partido, por algumas vezes. E a única pergunta que me veio à cabeça enquanto lia: como poderiam abandonar essa garota?

Kya nos ensina muita coisa, não apenas sobre a independência e como às vezes precisamos catar todos os pedaços, juntar forças, sabe-se lá de onde (no caso dela, do próprio brejo) e seguir em frente. É um livro sobre a solidão, sim, e o quanto ela é cruel, mas também nos mostra como podemos ter esperança, e sabermos respeitarmos as diferenças. Ou seja, apesar de se situar na década de 1960 em diante, a história da obra é muito atual, refletida em nossos tempos.

Enfim, preciso finalizar e não posso resumir a conclusão dessa obra de forma melhor: surpreendente e delicado, de uma forma que só Delia poderia ter escrito. Confesso que não é preciso muito para me surpreender, mas a autora conseguiu fazer isso de uma forma muito intensa, se é que me entendem… não é surpresa que chorei muito, não apenas no fim, é claro. Pois é um livro que toca nossa alma de forma muito delicada e ao mesmo tempo muito forte. Já me vejo lendo outros de seus livros… espero sinceramente que isso aconteça.

Bom, é isso pessoal. Tentei não me estender tanto, pois eu queria poder falar muito mais sobre essa obra. Se você já a leu, bem, me chame e vamos bater um papo. E se você ainda não leu, e essa resenha te ajudou, de alguma forma, a dar uma chance para essa obra, bem, deixe nos comentários suas impressões. Obrigado e até a próxima!

Ficha técnica:

Um lugar bem longe daqui

Autora: Delia Owens

Editora: Intrínseca/Intrínsecos

Ano: 2019

336 páginas

Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

4 thoughts on “Resenha: Um lugar bem longe daqui – Delia Owens”

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