Tipo uma história de amor - Abdi Nazemian

Olá, tudo bem? A resenha que trago hoje é do livro “Tipo uma história de amor”, de Abdi Nazemian. Desde que ouvi falar sobre esse livro eu fiquei interessado na história e no contexto que envolvia. Aliás, não me lembro de ter lido, antes, um livro que retrate a aids tão abertamente. Então, para mim, foi importante conhecer esses personagens tão memoráveis. Enfim, espero que aproveitem a leitura dessa resenha:

A SINOPSE DE “TIPO UMA HISTÓRIA DE AMOR”

Estamos em 1989. Os Estados Unidos enfrentam uma verdadeira epidemia da aids. Reza, um garoto iraniano que recentemente se mudou para Nova York, é gay e tem medo de morrer por conta dessa doença, que pouco se conhece sobre. Por essas e outras ele mantém a sua sexualidade em segredo. Na nova escola, ele conhece Judy, uma jovem pela qual ele logo sente uma ligação.

Mas enquanto se envolve com Judy, ele se percebe apaixonado por ninguém menos que o melhor amigo da garota, Art. E aí começa uma verdadeira aventura para Reza, pois ele não quer abrir mão do amor, mas também precisa descobrir como se aceitar de uma forma que não destrua sua amizade com Judy. E nessa jornada, ele vai conhecer o tio de Judy, que é soropositivo, e sua jornada por sobreviver nesse mundo doente.

A ESCRITA DE ABDI NAZEMIAN

Primeiro, devo começar pela escrita de Nazemian. Sem dúvida, essa escrita é o que conquista o leitor logo de início. Objetiva, instigante e curiosa são os adjetivos que me vem à cabeça para descrever essa escrita. A linguagem se assemelha à época em que o livro se passa e isso é positivo, do ponto de vista de nos colocarmos nesse cenário. Não que o resto em si já não faça isso – o preconceito, a epidemia da aids e todas as consequências disso.

Além disso, o livro tem muitos e bons diálogos, que ajudam a movimentar a história e fazem a leitura fluir como deveria e a leitura avança rapidamente. Aliás, tem um tom divertido, principalmente quando Art está envolvido, que também ajuda na leitura. E tem um tom mais dramático, e triste, mas que não dificulta a leitura. Contudo, nos dá um certo arrepio ao ver essa doença destruindo tantas vidas.

Ainda sobre a narrativa, a história é dividida em três perspectivas diferentes, todas narradas em primeira pessoa. São perspectivas diferentes de um mesmo tempo, das mesmas situações, de sentimentos parecidos. É interessante como os protagonistas mudam quando estão em sua própria perspectiva e a diferença quando são descritos na perspectiva terceira. Eu gosto disso, pois nos mostra outros lados desses personagens.

O ENVOLVIMENTO COM A HISTÓRIA

É difícil não se sentir envolvido nessa história, com esses três personagens. É como se você quisesse estar ali com eles. Cada um representa algum medo que nós também sentimos. Porque, como o autor bem descreve logo no início, era a escolha entre ser você mesmo ou viver, pelo medo da aids. Naquela época, essa doença era cercada por preconceito, falta de informação e de atenção por parte das autoridades da saúde.

Eu não vivi nesse tempo, mas livros como esse ajudam a ter uma perspectiva de como foi no início, como era a dificuldade para tratamento e como o preconceito arruinava tantas vidas. E aí vemos jovens como Art, que protesta, que luta por um mundo melhor. Ele, assim como outros ativistas, quer mudança, e ele acaba envolvendo Reza e Judy nessa luta também. É algo de dar orgulho, quando lemos.

A aids parece assombrar essas pessoas, sim, mas a história vai além. É a descoberta sobre si mesmo, é o manifesto em agir como você é de verdade, é sentir. Nazemian consegue inspirar, com certeza, muitos jovens a sentirem, a se entregarem. Mas também reforça que precisamos cuidar de nós mesmos, e de quem amamos.  O mundo pode ser aterrorizador, mas nós podemos dar a volta por cima.

“TIPO UMA HISTÓRIA DE AMOR” ENCANTA

Outro ponto positivo dessa história é a relação de Art com Reza. É engraçado, pois eles são extremamente opostos em personalidades. Acaba sendo divertido, enquanto descobrimos mais sobre os dois. Judy acaba ficando de escanteio, na minha percepção, mas ela é tão importante quanto. Ainda que não pertença à comunidade LGBTQIA+, ela é representativa de outra forma e defende Art com unhas e dentes.

Também adoro a influência da Madonna, ainda que eu mesmo não seja um fã e conheça poucas músicas. O fascínio de Art por ela é surreal. E quando Reza descobre a cantora, é como se ele fosse dominado por um encantamento por ela. E essa foi uma forma de o autor homenagear a cantora, que tem uma influência enorme nessa comunidade, principalmente naqueles tempos. Inclusive, ela é responsável por um dos pontos altos desse livro.

Acho que é nesse ponto que a sexualidade deixa de ser como uma sentença de morte e se transforma em uma comunidade. Em algo a ser celebrado. O autor consegue fazer isso, principalmente por meio dos protestos em que os garotos se envolvem, e que celebra a vida de tantos ativistas que lutaram também por um mundo melhor. Por uma vida mais digna.

PARA CONCLUIR…

Confesso que tudo o que acontece com os três me deixou angustiado e um pouco confuso com meus próprios sentimentos. Sei que é tudo ficção, mas é difícil você não se sentir parte da história, ainda mais uma tão bem escrita como essa. Mas eu não sei qual “lado” está certo, se é que há certo e errado nessa história. Mas é como falei antes, o autor consegue te envolver tanto que é impossível não ter sentimentos tão conflitantes.

Nessa mesma linha, quando Reza conhece Art, a forma como ele o trata é doloroso de ler, mas compreensível. É difícil falar de uma forma que não dê spoilers, mas tipo, os receios de Reza são compreensíveis. Principalmente naquela época em que essa doença aterrorizava a todos, em especial esse grupo de pessoas. Então suas atitudes, até rudes, mas ao mesmo tempo contraditórias, são compreensíveis, e bem exploradas pelo autor.

Enfim, para finalizar. Acho que é como disse antes, essa é uma história sobre celebrar a vida, mas também de descobertas, de sentir e, o principal, amar. O preconceito é cruel, sabemos disso, mas quando lemos histórias como essas, as coisas ficam um pouco mais serenas. Continua sendo cruel, mas aprendemos a encontrar nossa voz. Portanto, obrigado, Abdi Nazemian.

É isso, galera. Espero que tenham gostado dessa resenha. Por favor, leiam “Tipo uma história de amor”. Vale muito a pena, garanto! Até a próxima!

Ficha técnica

Tipo uma história de amor

Autor: Abdi Nazemian

Editora: HarperCollins

Ano: 2020

352 páginas

Onde comprar: Amazon (físico) | Amazon (e-book)

Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

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