Olá, tudo bem? Hoje trago para vocês a resenha de “Água fresca para as flores”, de Valérie Perrin. Esse foi o livro de janeiro do intrínsecos. Sem dúvida, uma grata surpresa, uma história diferente de tudo o que já li, mas muito gostosa de ler. Enfim, espero que aproveitem a leitura dessa resenha.
Na história, acompanhamos Violette Toussaint. Ela tem quase 50 anos e hoje vive em um cemitério, em Borgonha, na França. Aos poucos, elas nos conta sua rotina como zeladora do cemitério, um lugar repleto de memórias, risadas e lágrimas, que se misturam às xícaras de café e taças de vinho. Em sua casa, ela recebe visitantes de todos os tipos. Ela os conforta, os escuta ou apenas os faz companhia, enquanto eles processam o luto.
Conforme relembra sua história de vida, Violette recebe a visita de Julien Seul. Ele é um policial que tem a missão de deixar as cinzas de sua mãe no túmulo de um completo desconhecido – pelo menos para ele. Quando Julien encontra Violette, ele também quer descobrir as razões do pedido de sua mãe. Então, as histórias deles se confundem enquanto os sentimentos dela, há muito esquecidos, começam a ser resgatados.
“ÁGUA FRESCA PARA AS FLORES” É UMA HISTÓRIA INSPIRADORA
Violette conta sua própria história. Aos poucos, ela vai narrando a rotina no cemitério, as boas coisas e as coisas não tão boas assim. Ela divide essa narrativa com seu passado, o que a levou até ali, principalmente o relacionamento com o marido que, de repente, sumiu. Ou como ela diz, prolongou um de seus sumiços. E ela conta tudo com tanta naturalidade que é fácil consumirmos sua história.
Na verdade, é uma ânsia que a autora consegue despertar no leitor. Além disso, não deixa de ser uma história triste. E, ainda assim, apesar de a morte rondar todo o livro, ela também é cheia de vida. Ou pelo menos de razões para viver. Acho que essa ambiguidade funciona muito bem, pois essa tristeza que percebemos em alguns momentos não é permanente. Ela está lá, pois Violette sofreu muito, desde a infância até a vida adulta.
Mas ela tem uma energia que é surpreendente. Com poucas coisas, seus amigos no cemitério, suas flores, seus gatos e sua casa simples e acolhedora, ela consegue transmitir uma vontade de viver, mesmo que, aos poucos, conhecemos tudo o que ela perdeu durante sua vida. É uma força que não sabemos de onde vem – ou sabemos, se analisarmos como ela vive -, mas que é inspiradora.
A ESCRITA DE VALÉRIE PERRIN
A escrita de Valérie Perrin é sensível, delicada e densa. Me encantei logo de início, o que ajudou para que a leitura avançasse. Mas, na mesma medida que a leitura avança, o tempo vai junto. Isso fruto do quão profundamente nos envolvemos na história. Mesmo sem ter uma trama bem desenvolvida no início, a leitura avança. E então, conforme a autora introduz melhor sua trama, o ritmo fica ainda melhor.
Além disso, os capítulos, em sua maioria, são curtos. E algo interessante é que todos os capítulos são identificados por epitáfios – frases escritas em lápides para homenagear os mortos. Achei isso interessante pois é curioso ver aquilo que as pessoas escolhem para colocar na lápide de seus entes – ou aquilo que os próprios mortos escolhem para ser escrito em suas lápides. De alguma forma, são coisas inspiradoras.
“Tenho certeza que muitos canalhas descansam aqui. Mas a morte não diferencia os bons e os maus”.
Outra coisa que me agradou na escrita de Valérie é que ela usa muitas frases de efeito, principalmente na voz de Violette. São frases que poderiam ser pescadas e ser usadas, inclusive, em lápides. Contudo, não são frases genéricas ou clichês, são coisas que acabamos nos identificando, mas que também podem passar despercebidas. De qualquer maneira, acho que isso funciona muito bem, assim como os epitáfios.
O DESENVOLVIMENTO DE “ÁGUA FRESCA PARA AS FLORES”
Como disse, é Violette quem conta sua história. E ela narra diferentes momentos de sua vida, mas não necessariamente em ordem cronológica. Sem dúvida, essa estrutura não linear tem ligação com toda a trama, com essa coisa de não sabermos o que pode acontecer amanhã ou na semana que vem. Um pequeno acontecimento pode mudar nossa vida para sempre. E a autora consegue explorar isso muito bem dentro da estrutura do livro.
Além disso, aos poucos, conhecemos não apenas diferentes Violettes, mas também histórias de outros personagens marcantes. Como a do delegado Julien e de outras pessoas que fazem parte do dia a dia de Violette no cemitério. São histórias aleatórias sobre as pessoas que foram ou são enterradas no cemitério, mas também pontos de vistas diferentes de outros personagens que nos ajudam a entender Violette.
PRA CONCLUIR…
Mesmo não sendo um livro de ação ou suspense, a autora insere momentos de reviravoltas, que são bem construídos e que dão mais fôlego para a leitura. Como disse, é uma história densa, mas ao mesmo tempo tão profunda que é difícil não se envolver com esses personagens. Principalmente por tratar de assuntos tão intrigantes, como o amor, a perda e o perdão, entre outros.
Enfim, eu acho que esse é um romance profundo e que merece muito ser lido. Seja pelos assuntos tratados ou pelos personagens inspiradores e que nos mostram as multifaces do ser humano. Vale muito a pena a leitura!
E é isso. Espero que tenham gostado dessa resenha e até a próxima!
Ficha técnica
Água fresca para as flores
Autora: Valérie Perrin
Páginas: 479
Editora: Intrínseca/Intrínsecos
Ano: 2022
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