Olá, como vai? Hoje quero falar sobre o livro “As vitoriosas”, de Laetitia Colombani. A obra chegou primeiro aos assinantes do intrínsecos (Intrínseca) em julho (2022). Segundo romance da autora de “A trança” lançado no Brasil, “As vitoriosas” traz duas histórias conectadas pela sororidade. Além disso, mistura fatos reais e ficção. Enfim, aproveite a leitura dessa resenha.
Na história, conhecemos Solène, uma advogada bem-sucedida de 40 anos que vivenciou um episódio traumático. Então, consultando um psiquiatra, ela decide procurar um trabalho voluntário para buscar uma saída para a depressão. Viciada no trabalho, ela já não vê mais sentido em seu escritório, seu apartamento em um bairro nobre de Paris ou o dinheiro. Até que se torna escriba no Palais de la Femme (Palácio das Mulheres).
Um século antes, em 1925, Blanche Peyron (1867-1933) iniciou uma campanha para arrecadar fundos e reformar um hotel desativado. Sua ideia era criar um abrigo para mulheres sem-teto – e ela consegue, um ano depois, quando inaugura o Palais. Sua dedicação à justiça social começou aos 17 anos, quando conheceu o trabalho beneficente do Exército da Salvação. E é nesse palácio de mulheres que as histórias de Solène e Blanche vão se encontrar.
O DESENVOLVIMENTO E A NARRATIVA DE “AS VITORIOSAS”
Sem dúvida, Laetitia Colombani tem uma maneira singular de narrar sua história. Sem diálogos – pelo menos não na forma tradicional -, ela consegue narrar com detalhes e, ao mesmo tempo, com objetividade as vidas de duas mulheres, separadas pelo tempo, mas que se encontram no trabalho voluntário, em suas vocações. Mas a diferença é que uma é uma personagem fictícia (Solène) enquanto a outra (Blanche) é uma personagem muito real.
Mesmo sem diálogos, a leitura avança bem. É uma sensação de imersão na história, de tão bem que a autora consegue envolver o leitor, seja pela sua forma de narrar, ou pelas histórias que são narradas. Como os diálogos se confundem com a narrativa, fica a impressão de uma leitura mais densa. Ainda assim, como não é uma história muito longa, se torna uma leitura rápida, com uma narrativa dividida entre as duas protagonistas.
A VIDA DESSAS DUAS MULHERES
Portanto, é um livro que mostra as histórias de duas mulheres diferentes, cujas vidas se entrelaçam. Solène é a personagem do hoje, fictícia, mas com características e problemas reais, humanos, impactantes. E que busca uma espécie de saída para tentar lidar com seu sofrimento depois do acontecimento traumático que afetou sua vida. Ao passo que vemos como ela ganha motivos para viver dentro do Palais.
Blanche, um século antes, é a precursora de um trabalho de acolhimento a mulheres em situações de vulnerabilidade. Conhecemos um pouco de sua jornada de vida, desde o início de seu trabalho voluntário, sua força como mulher, a construção do Palais. Blanche serviu seu país com honra. Por meio dela, vemos um discurso muito feminista, uma raridade para a época, um estilo de vida de uma mulher que contradiz as tradições.
“AS VITORIOSAS” É SORORIDADE DO INÍCIO AO FIM
Aliás, eu classificaria esse livro como um romance clássico sobre sororidade, com todos os elementos que dão significado a essa palavra. A história de Blanche é um resumo, mas o ponto forte é Solène. Pois, com ela, conhecemos várias mulheres que vivem no Palais. Diferentes histórias, todas envolvendo sofrimentos, dores, lágrimas e traumas. Histórias difíceis de conviver, mas que trazem à Solène um pouco de vida para sua rotina.
E vai além, no meu ponto de vista. Há uma pluralidade cultural e social dentro do Palais, exatamente por abrigar, até hoje, centenas de mulheres sobreviventes. Afinal, elas passaram por violências, abusos, preconceitos e a guerras. Todas procuram reconstruir suas vidas, resgatar sua dignidade. E tudo pelo trabalho de Blanche. Assim como, para Solène, também é um recomeço.
E por meio de mulheres tão distintas, a autora consegue discutir importantes temas, como depressão, Síndrome de Burnout, religiosidade, entre outros. Tudo de maneira muito delicada e natural. Portanto, além de trazer representatividade para sua história, Laetitia consegue inspirar, emocionar e ensinar aos leitores a importância da empatia e da solidariedade. Mesmo nos pequenos gestos.
EMOCIONANTE
Emocionante é uma palavra que resume bem esse livro. Além de ser muito bem escrito, é um livro que foge do “tradicional”, por trazer uma narrativa que, particularmente, não costumo ler, mas que é inteligente e bonita. E também por trazer uma espécie de biografia de uma mulher que representa o ativismo francês e inspira. Sem dúvida, a escrita de Laetitia é bela, emocionante e vibrante.
Então, é isso. Espero que tenha gostado dessa resenha. Até a próxima!
Ficha técnica
As vitoriosas
Autora: Laetitia Colombani
Páginas: 208
Editora: Intrínseca/Intrínsecos
Ano: 2022