Livro Cartas para Martin - Nic Stone

Olá, pessoal, tudo bem? É com muito prazer que trago para vocês a resenha de “Cartas para Martin”, de Nic Stone. E eu já quero dizer que esse é daqueles livros necessários. Eu já tinha muita expectativa para ler e não me decepcionei. Enfim, esse livro foi lançado em 2020 aqui no Brasil e já tem continuação anunciada. “Dear Justyce” deve chegar pela Intrínseca em breve. Então, confiram a resenha de “Cartas para Martin”:

A HISTÓRIA DE “CARTAS PARA MARTIN”, DE NIC STONE

Certamente, ser agredido e detido injustamente não estava nos planos de Justyce McAllister, de 17 anos. Afinal, sendo um dos melhores alunos de uma prestigiada escola de Atlanta, é óbvio que ele tem um futuro brilhante. Além disso, tem uma mãe amorosa e um melhor amigo incrível. Mas isso não muda o fato de que ele é negro e, portanto, é julgado pela cor de sua pele. E é exatamente um episódio de violência policial que evidencia isso.

Depois do ocorrido, Justyce começa a ver seu futuro de outra forma. Daí, surge uma ideia. Você provavelmente já deve ter ouvido falar de Martin Luther King Jr., certo? Pois bem: Justyce decide escrever cartas para Martin, um dos mais importantes ativistas pelos direitos dos negros e símbolo da luta contra a segregação racial nos Estados Unidos, morto em 1968.

Nessas cartas, Justyce conta a Martin como lida com os problemas do dia a dia, os conflitos com amigos, a conturbada vida amorosa e, claro, as questões familiares. Ele faz isso enquanto tenta colocar em prática os ensinamentos de Luther King. Isso porque ele quer entender como lidar com essas injustiças da vida, principalmente relacionadas à cor da sua pele. Mas vai além disso: ele quer entender que tipo de pessoa ele quer ser.

A NARRATIVA

É incrível como a autora começa esse livro. São vários socos no nosso estômago escancarando uma realidade que conhecemos bem. Aliás, isso é muito bem descrito a cada capítulo no decorrer da história. Mas o início da obra é crucial, é o momento de partida para o que veremos ao longo de todo o livro, as injustiças. São coisas do nosso cotidiano, ou que pelo menos deveriam ser mais “escancaradas”, porque só quem sente na pele é que realmente sabe dessa realidade – para o resto do mundo, ficam as manchetes, quando elas saem.

A escrita da autora é encantadora, inteligente, cruel e objetiva. Mais do que isso, ela usa uma linguagem moderna que aproxima o leitor. Isso ajuda muito no desenvolvimento da leitura, ainda mais falando de um assunto como tal. Sem falar que ela usa artifícios que tem se tornado comuns hoje em dia na literatura, como a inserção de diálogos que lembram um roteiro. Além disso, ela divide a história com as cartas que Jus escreve para Martin. É uma divisão entre o dia a dia dele e os momentos de reflexão sobre tudo o que acontece com ele.

OS DEBATES

Um dos pontos cruciais desse livro, na minha leitura, foram os debates das aulas de sociologia da classe de Jus. Eles são extremamente necessários para entendermos o intuito da autora com essa história. Isso porque ela releva muitas coisas e muitos diálogos que estão presentes na nossa realidade – que volta e meia você ouve da boca de alguém ou nos comentários pela internet. É por isso que esse livro é tão intenso e pesado, ao passa que não conseguimos largar a leitura.

Nesses debates, fica muito clara a diferença de visões e comportamentos que são comuns hoje em dia. E, obviamente, me coloquei no lugar de Justyce. Exatamente porque ele também achava que não teria de passar por uma situação que acontece com “outros” negros. Mas é fácil falarmos, concorda? E aí, quando acontece, não há outra forma de se sentir se não injustiçado. Eu nunca passei por algo como ele. Mas já vivi muitos dias temendo passar por isso.

Nesse sentido, preciso dizer que há muito gatilhos nesse livro. Não só nesses momentos de debates, mas creio que em quase todos os capítulos a autora deixa algo que pode impactar muito. E o mais impressionante, ou o pior (sei lá), é que consegui visualizar na minha cabeça várias cenas desse livro. Todas elas rodeando minha mente, mesmo quando eu não o estava lendo. O que, novamente, mostra a necessidade da obra, mas como ela pode ser impactante.

“CARTAS PARA MARTIN”, DE NIC STONE, É UM LIVRO NECESSÁRIO

Sem dúvida, impactante. Mas é mais que isso. Esse livro é extremamente necessário e importante. Uma verdadeira aula para os tempos atuais. Pois, a cada notícia que vemos de casos semelhantes acontecerem, no Brasil e no mundo afora, percebemos que apesar de essa realidade não morar necessariamente ao nosso lado, ela está presente. E é algo cultural, algo enraizado e estrutural infelizmente. Mas livros como esse mostram que é possível mudança. É possível um futuro em que os negros não sejam julgados por sua cor.

Luther King foi um cara que serviu de exemplo para muitas pessoas e para uma luta. Ele também foi o escolhido de Jus para tentar ser alguém melhor, e lidar com esses “problemas”. Talvez o Justyce criado por Nic, que é o símbolo de muitos adolescentes negros, seja um exemplo futuro para outra geração. E, talvez por isso, esse livro demonstre ainda mais sua importância. De nos colocarmos no lugar de Jus, de nos colocarmos no lugar dos outros personagens para entendermos o nosso papel na sociedade.

ENFIM, É ISSO

Eu poderia ficar mais um tempão escrevendo sobre esse livro, mas não acho que seja necessário. Digo isso, para finalizar: leiam. Com certeza o livro vai falar muito melhor do que eu nessa resenha. Só a experiência de ler é que de fato permite entender a importância do livro. E claro, além da temática no geral, preciso dizer que há, também, espaço para romance e uma discussão importante sobre amizade nesse livro. Portanto, vale muito a pena leitura, eu garanto!

Espero que tenham gostado dessa resenha, pessoal. E, claro, nos vemos na próxima!

Ficha técnica

Cartas para Martin

Autora: Nic Stone

Páginas: 256

Editora: Intrínseca

Ano: 2020

Onde comprar: Amazon (físico) | Amazon (eBook)

Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

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