Olá pessoas! Tudo certo? Eu fiquei procurando um adjetivo que melhor descrevesse “Columbine”, do jornalista Dave Cullen, para dar início nessa resenha. Ainda estou pensando e acho que o mais perto que chego do real sentimento dessa leitura é: devastador. Não sei se é a melhor palavra, mas talvez basta por ora… bom, espero que gostem dessa resenha.
20 de abril de 1999. Um dia que ficou para a história dos Estados Unidos, e provavelmente para o mundo. Essa foi a data que ficou conhecida como o Massacre de Columbine. Não foi o primeiro – nem o último – tiroteio em massa, mas foi o primeiro em larga magnitude e o primeiro da era digital, e que até hoje está na mente das pessoas.
Dylan e Eric foram os protagonistas do massacre – os que tinham as armas e bombas nas mãos. Mas a escola estava repleta de vidas que foram viradas do avesso para sempre. E fora, os policiais, os familiares, os curiosos e os repórteres, como Dave Cullen, um dos primeiros a chegar no local. Mas ele só terminou de contar (toda) a história de Columbine, 10 anos depois.
E o resultado é esse livro, de 480 páginas, com fatos, história, percepção, fatos jornalísticos, aprendizado e… horror. A primeira coisa que senti quando comecei a ler esse livro foi um certo aperto no coração. Nunca tinha me aprofundado na história de Columbine, mesmo tendo eu mesmo me formado em jornalismo.
Conhecia a história, mas não os detalhes… e quando comecei a ler esse livro, sabendo quanta verdade ele trazia, claro que com base em relatos, testemunhos etc. e tal, logo algo mexeu comigo, principalmente por saber que essa não foi a primeira nem a última história. Aliás, isso acontece com muito mais frequência hoje do que naquela época. E acho que é isso que “pesa”, logo no início.
Outro pensamento que passou pela minha cabeça enquanto lia era como a história se pintou, pelo menos no início, como Dylan sendo o “estranho/psicopata/assassino” – enquanto Eric era o descolado. Mas ambos fizeram aquilo. Ambos. E no final o autor mostra que não era bem assim. Ele mostra tudo, ele nos mostra exatamente quem eram Dylan e Eric.
Um terceiro pensamento passou pela minha cabeça logo no começo: o quanto esse livro é escrito de uma forma como se estivéssemos lendo uma ficção. O que ajuda é a introdução do autor, pois depois que ele começa mesmo a recontar a história, não me pareceu que estava lendo algo que de fato aconteceu – e infelizmente estava.
Mas o jornalista usa de muitos detalhes e de uma linha narrativa que me remeteu muito a uma ficção. Talvez não seja ruim, do ponto de vista da fluidez da leitura, mas pode ser ruim como interpretamos essas páginas. O autor “joga” muito, conforme apresenta os personagens reais, locais ou simplesmente fatos, como tudo acabou sendo depois do ato de Eric e Dylan. Como aquela pessoa que ele estava falando, naquele dia estava bem e viva – e no seguinte não mais.
O relato do planejamento meticuloso dos dois é surpreendente. Mas o relato do ataque em si, em sua riqueza de detalhes que, novamente, poderia muito fazer confundir com uma ficção, é mais do que surpreendente: é aterrorizante. A riqueza de detalhes impressiona, baseada em diversos relatos e nos próprios planos de Eric e Dylan.
O autor divide esses momentos do ataque com a relação com a mídia e como a cobertura do caso começou, assim como a polícia iniciou o trabalho. E os números também impressionam. Ele se aprofunda na cronologia antes, durante e depois do atentado. Na história dos garotos, tudo o que os levou ao massacre, mas também como isso impactou tantas vidas, como a do próprio autor.
Ele trata de vários aspetos após o ocorrido – seja a religião, o luto, as explicações, a recriação da cena, o passado. E nesse último ponto, reparei em algo: quase que o autor “humaniza” Dylan, enquanto pinta o Eric como o vilão com um histórico “ruim”, que gostava de explosões, enquanto Dylan gostava de pescar. E dando a entender que Eric foi o cabeça do atentado, o que bem pode ser verdade, levando em conta os relatos.
Como eu disse, é uma descrição minuciosa de todos os detalhes do ocorrido, suas consequências, o que antecedeu. E por isso, é uma leitura densa, mas necessária e importante. Ele mostra como os eventos de Columbine são lembrados até hoje com tamanha intensidade, mesmo com outros casos parecidos ou piores… e como Eric e Dylan se tornaram inspiração para tantos outros assassinos em massa.
Outro ponto a se destacar é que o autor reserva um bom espaço para falar dos vivos, após o atentado. Como estão suas vidas, ou como ficaram suas vidas depois. Acho que isso mostra a importância da obra para as pessoas que vivenciaram Columbine. O poder do perdão, de superar, de continuar resistindo e vivendo.
Me coloquei no lugar dessas pessoas, lendo um livro como esse, e relembrando algo que não sai de suas mentes. Pode estar um pouco distante, bem no fundo das lembranças, mas continua lá, num espaço reservado para isso.
Além disso, o jornalista abre espaço para uma discussão importante sobre o porte de armas. Isso é uma polêmica, até hoje, nos EUA. E tem se tornado aqui no Brasil também, principalmente nos últimos anos. E o autor abre esse espaço nos mostrando como eles conseguiram as armas, como estudaram cada passo, cada ação do fatídico dia.
O epílogo é uma verdadeira aula de jornalismo por parte do autor. Ele finaliza o livro e então se torna outro personagem dessa história real. Como isso o influenciou, ao longo dos quase 10 anos em que levou para chegar a esse livro. Mais do que isso, ele revela suas emoções ao acompanhar de perto as repercussões do ataque.
E eu acho que é isso. Confesso que demorei um pouco nessa leitura, comparado ao tempo que demoro pra ler um livro. Claro que isso se justificativa por ser um livro que reconta todos os detalhes conhecidos do massacre, em todas as suas perspectivas, sem diálogos. Mas também acho que a própria história se justifica. Talvez eu tenha ficado receoso de que isso pudesse me afetar…
Enfim, como eu disse, acho que é uma leitura necessária, ainda que certas “cenas” tenham me dado calafrios… mas não apenas para jornalistas ou futuros jornalistas, mas todos que querem debater esse assunto de uma forma consciente e coerente. Acho que aí está sua importância, mais do que apenas nos deixar informados sobre como ocorreu o Massacre de Columbine.
Finalmente, acho que não há mais do que dizer além de que espero que tenham gostado dessa resenha e apreciem a leitura desse livro, caso ainda não tenham dado uma chance. É devastador, como disse no início, mas surpreendente. Até mais!
Ficha técnica:
Columbine
Autor: Dave Cullen
Editora: DarkSide Books
Ano: 2019
480 páginas
[…] E aí entra outro ponto interessante desse livro: o choque entre o que é real e o que é ficção. Slim, pelo que pude apurar, é um criminoso conhecido na Austrália, e que de fato existiu. O autor explica isso no fim, brevemente, e comenta como conseguiu construir toda a narrativa que envolve o famoso “Houdini”, por quem Eli é tão afeiçoado. Ao mesmo tempo, o autor joga algumas outras referências reais, como o jornalista Dave Cullen, que ganha vida nessa obra de uma forma muito interessante. Para quem não se lembra, Cullen é o autor de “Columbine” (resenhado aqui). […]