Livro Com a corda no pescoço - André Nigri

Olá, pessoal! Tudo bem? Hoje trago pra vocês a resenha de “Com a corda no pescoço”, de André Nigri. Seu mais recente livro, lançado pela editora Reformatório, nos foi enviado pela Oasys Cultural, a quem eu já agradeço pela indicação. Assim, esse foi meu primeiro contato com a escrita de André Nigri. Embora seja um livro de contos, acho que consegui absorver muito bem sua escrita. E certamente me conquistou. Então, espero que aproveitem a leitura:

AS HISTÓRIAS DE “COM A CORDA NO PESCOÇO”

Como adiantei, “Com a corda no pescoço” é um livro que narra quatro contos. Neles, são narrados relacionamentos amorosos de diferentes personagens. Em um, temos Helena. Ela vive um casamento entediante, com um marido obcecado pelo herói da liberdade nacional. Noutro, conhecemos Denise. Ela é professora de balé e tem como bagagem o relacionamento com o filho de um líder comunista.

Já Maria deixa o namorado em casa para viver uma aventura com um homem que mal conhece. Por fim, temos Mariana, uma jornalista que carrega dois casamentos fracassados e agora enfrenta o assédio do chefe. Em comum todas elas estão presas em armadilhas emocionais e confusões amorosas, procurando lidar com as contradições de seus desejos.

O PRIMEIRO CONTO

Depois desse resumo, quero falar sobre cada um dos contos especificamente. O primeiro, que dá nome ao livro, é o que mais me conquistou em todo o livro. Não tem um motivo específico. Acho que ele é o mais “completo”, que me deixou mais curioso, talvez. Ainda assim, não era a narrativa que eu esperava. E por isso me surpreendi com uma história muito bem escrita, com um vocabulário rico e ao mesmo tempo coloquial e que se aproxima do leitor. Uma narrativa que logo te conquista, tão logo acaba.

Nesse conto, o autor fala sobre um caso de amor entre Antônio e Helena. A história se passa em poucas horas, mas as memórias são de anos. E os diálogos entre os dois são o ponto alto, inteligentes e engraçados, um pouco ácidos também, eu diria – talvez mórbidos. Mas o mais interessante é a relação que o autor faz com a história dos envolvidos com a de Tiradentes (se eu entendi corretamente). Realmente, muito inteligente. Ele não chega a citar o mártir, nem dá tanto destaque para isso. Porém, dá dicas sobre quem está falando.

O SEGUNDO CONTO

O segundo conto, “Na ponta dos pés” tem um ar totalmente diferente. Mas segue os mesmos “padrões” do anterior. O foco é Francesca, a bailarina. Não sabemos quem narra, apenas que é um cara com quem ela está. E ele reconta como ela o contou sobre seu passado na Rússia, como bailarina e (uma das) amante de um russo, filho do líder comunista do país. Ao passo que o autor mantém esse “padrão” (triângulo amoroso), a história é diferente em muitos sentidos. É menos “mórbida” e mais divertida. Francesca tem um jeito bem diferente, extravagante.

Mas ambos contos parecem focar no passado. Essa, no entanto, me trouxe um ar mais de esperança, ao passo que poderia ser apenas uma história que você ouve no bar de um conhecido do trabalho sobre suas aventuras sexuais com uma bailarina. Porque quem conta é o cara com quem ela está. Mas o foco mesmo é ela, é a sua história com o líder comunista, seu tempo no balé russo, sua rotina. Só que tudo volta para essa relação com o tal cara, que tinha uma esposa, mas tinha suas amantes para se “divertir”, digamos assim.

O TERCEIRO CONTO

“Se não fosse a lua” é o terceiro conto. Nele, conhecemos Maria e Paulo. Eles estão em aviões diferentes, mas o destino é o mesmo. Ela mal o conhece, e não sabemos como se deu esse contato ou qual o objetivo dele. Temos apenas uma ideia a partir das dicas que o autor dá. A narrativa, dessa vez, é em terceira pessoa, e se divide entre os dois. Mas é perceptível que a história de Maria é que devemos nos atentar.

A vida de Paulo é mais misteriosa. O que conhecemos é aquilo que o autor nos conta ali, sobre como ele ajuda um moça que tem fobia de aviões (ou de altura?), sua chegada ao hotel, depois indo ao bar, lendo um livro, o encontro com Maria. Enfim, não sabemos mais do que isso, o que reforça, para mim, que o foco mesmo é ela. Novamente, essa coisa da relação entre os contos, além de narrar uma mulher intrigante e falar de paixões e passados, voltamos ao triângulo amoroso, mesmo que as partes não saibam que estão vivendo um, necessariamente.

O QUARTO CONTO

Por fim, chegamos ao conto “O tocador de triângulo”. Apesar de ser uma referência a Filipe, quem narra a história, a pessoa que mais “fala” mesmo é Mariana, sua namorada. Ela viveu dois casamentos fracassados e, em poucas páginas, o autor narra ambos relacionamentos, e como eles foram desastrosos, no mínimo. Acontece que ela conta isso para o atual namorado. Até aí, tudo bem. O problema é que, agora, ela enfrenta no trabalho o assédio do chefe. E ela não deixa de demonstrar, ao namorado, o quanto está incomodada. Até que vem a reviravolta…

Esse conto é muito diferente também. Novamente, apesar de ser Filipe quem narra, todo o foco se volta à Mariana, quem ela é ou deixa de ser, seus problemas conjugais e no trabalho. E tem diálogos muito inteligentes, em que quase é somente Mariana quem fala, numa enxurrada de disparates, em que ela mesmo se confunde, e nos confunde. No entanto, o ápice da história é realmente a reviravolta dessa trama, o que também me conquistou facilmente.

“COM A CORDA NO PESCOÇO”: EM RESUMO, UM LIVRO SOBRE PAIXÕES?

Não sei se essa é o mote do livro, necessariamente. Acho que ele vai além disso. Ao mesmo tempo que ele narra pessoas comuns, com problemas comuns, ele nos apresenta mulheres intrigantes, com personalidades fortes, cada uma com suas histórias e suas “cordas no pescoço”, se é que me entendem. E como disse, as histórias se repetem em sua fórmulas, mas os resultados são bem diferentes. Acho que, no fim, não deixam de ser histórias práticas, com “começo, meio e fim”, mas que também nos deixam curiosos para saber o que há além do que está escrito.

Enfim, devo destacar que, como são contos, que têm bons e bem construídos diálogos, a leitura avança rapidamente, de maneira prazerosa. A linguagem do autor é inteligente, sem “enfeites” demais. Como disse, me senti próximo dos narradores, como se eles estivessem me contando tais histórias. E isso pra mim é muito interessante. Certamente é algo bem diferente do que estou acostumado a ler. Mas é um diferente bom.  Os personagens, por mais confusos ou misteriosos que sejam, te conquistam. E isso sem dúvida é mérito do autor.

Bom, acho que não há mais nada a dizer. Eu me senti conquistado pela escrita de André Nigri e “Com a corda no pescoço” é, sem dúvidas, um ótimo livro para você se aventurar num momento em que está entediado, ou numa ressaca literária. Uma escrita ágil e objetiva, mas profunda em suas nuances. Portanto, fica aqui minha indicação para esse livro, e meu agradecimento à Oasys Cultural por nos confiarem a resenha de mais um livro incrível.

Ah, e se vocês quiserem conferir as resenhas de outros livros dessa parceria incrível, é só clicar aqui. Espero que tenham gostado da resenha. Até a próxima!

Ficha técnica

Com a corda no pescoço

Autor: André Nigri

Páginas: 128

Editora: Reformatório

Ano: 2020

Onde comprar: Amazon (físico) | Amazon (eBook)

Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

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