Confiança - Hernan Diaz

Olá, tudo bem? Hoje trago a resenha do livro “Confiança”, de Hernan Diaz. Esse foi o livro de agosto do intrínsecos. Pois bem, de início já adianto que esse é um romance complexo, intrigante, mas muito bem escrito e envolvente. Portanto, espero que aproveite a leitura dessa resenha.

A história é dividida em quatro livros. No primeiro, conhecemos a vida fictícia de um financista, chamado Benjamin Rask, que com sua inteligência, multiplicou a fortuna do pai investindo na bolsa de valores. Muito inteligente, ele decidiu se afastar da indústria do tabaco para se dedicar aos segredos de se “dobrar o dinheiro”. E é essa jornada contada no primeiro livro, além da convivência com sua esposa Helen.

Mas esse é um relato fictício. No segundo livro, lemos uma autobiografia do financista, suas memórias e sua própria versão dos fatos. Então, vem o terceiro, que mostra a vida do financista de uma outra perspectiva: a de uma secretária que trabalhou em sua mansão. Por fim, no quarto e último livro, são revelados os escritos de um diário perdido e que trazem uma perspectiva ainda mais diferente e surpreendente de uma mesma história.

A IDEIA GENIAL DE HERNAN DIAZ EM “CONFIANÇA”

Antes de mais nada, devo destacar a genialidade do autor ao construir esse romance. Como fica evidente na sinopse, ele cria histórias e livros dentro de uma história. Não sei se a ideia se encaixa no significado de “metalinguagem”, mas é nessa linha. Os quatros livros são assinados por autores diferentes, só que é tudo criado pela mesma mente: Hernan Diaz.

Contudo, o que mais surpreende é que o autor consegue adaptar sua escrita conforme o “autor” ou “autora” secundários muda. Essa capacidade é única, no meu ponto de vista. Sem dúvida, o livro é complexo, como disse, mas ele não é difícil de ler. Pois ao conectar os quatro livros, ele torna a história interessante e convidativa, transformando uma narrativa densa (que de fato é) numa leitura mais dinâmica.

O PRIMEIRO LIVRO

O primeiro livro é como um romance histórico, em que o autor (fictício) conta a jornada de Benjamin Rask, do auge a sua estagnação na economia norte-americana. Além disso, ele deixa nas entrelinhas que Rask é o culpado pela Grande Depressão de 1929, mesmo com seu faro e sua intuição impecável nos negócios. E como o “autor” narra fatos históricos da economia e usa zero diálogos, a leitura não avança num bom ritmo.

“Suas emoções nunca anuviaram suas decisões de negócios”. Essa é uma frase do primeiro livro e que demonstra o espírito de um investidor cuja vida, basicamente, se baseava em negócios. A única exceção, porém, é sua mulher, Helen. Durante o primeiro livro, conhecemos um relato (fictício) de como os dois se conheceram e como, com suas diferenças e semelhanças, decidiram se casar – algo que parece muito natural.

Aliás, ambos parecem ter vidas solitárias. São pessoas reservadas, praticamente perfeitos um para o outro. E, com ela, Diaz trata de um assunto delicado, que são as doenças mentais, uma importante discussão sobre a medicina em relação a esse tema naqueles tempos. Mesmo depois descobrindo que essa é uma ficção, continua sendo um relato importante e que revela como eram doenças incompreensíveis.

 O SEGUNDO LIVRO DE “CONFIANÇA”, DE HERNAN DIAZ

O segundo livro é uma autobiografia – assinada por Andrew Bevel. Sim, o financista antes conhecido como Rask agora ganha seu nome “verdadeiro”. Em uma narrativa mais objetiva, e até mais interessante de ler, conhecemos sua versão da história. Contudo, percebemos que é uma autobiografia incompleta, com o autor deixando de lado certos detalhes para depois e anotações para si mesmo.

Aliás, não é só sua versão dos fatos sobre sua vida pessoal, mas também sobre seus negócios. No primeiro livro, as coisas tomam um rumo como se ele fosse culpado, o antagonista da economia dos EUA. No segundo, ele não chega a detalhar ou justificar suas atitudes financeiras, mas deixa claro como tinha intenções positivas em relação à economia e um olhar altruísta para que o “povo americano” prosperasse.

Outra diferença nesse livro é que Helen torna-se Mildred e como ele parece venerá-la. E o mais intrigante é que depois da narrativa fictícia desse financista do livro anterior, fica a impressão de que sua versão dos fatos é floreada, não condiz com a realidade – não apenas sobre as coisas relacionadas a si, mas também em relação a Mildred. É confuso, mas, ao mesmo tempo, instigante para o enredo.

O TERCEIRO LIVRO

No terceiro livro, narrado por Ida Partenza, secretária de Bevel, conhecemos uma perspectiva ainda mais distinta dos dois primeiros livros. Ela conta como conseguiu seu trabalho e a convivência com Bevel e sua missão – a de escrever uma biografia. Sim, aquela que lemos no segundo livro, incompleta. O objetivo dele era contar a verdade sobre sua vida e sua mulher, em uma resposta à ficção “Ligações” (o primeiro livro que lemos).

Ida narra sua relação com o financista, sua rotina com ele para poder escrever sua autobiografia (uma versão mais romantizada, mas ok), enquanto lida com seus problemas pessoais, principalmente com o pai. Então é uma história paralela, dentro de um universo maior. Conforme eu lia, percebia cada vez mais a complexidade da ideia de Diaz e como é fascinante como tudo vai ficando claro e compreensível para o leitor.

ENFIM, O QUARTO LIVRO DE “CONFIANÇA”, DE HERNAN DIAZ

O quarto e último livro são os últimos pensamentos em vida de Mildred. E é quando temos um vislumbre da verdade – o que nos garante, claro, uma ótima reviravolta, dando o fôlego final para a história. Aqui, conhecemos uma outra versão de Bevel, muito mais próxima do real, por meio de Mildred. A influência dela na vida do marido, e como ela moldou seus anos seguintes após sua morte.

E é nesse livro que ela ganha maior protagonismo, com uma narrativa focada mais em sua doença, claro, mas também na sua relação com o marido e as peças faltantes de todo o quebra-cabeça. Tudo isso é narrado por Mildred em seu diário – o que garante uma leitura mais rápida. Afinal, é uma versão mais pessoal, muitas vezes simples e direta, mas sempre muito clara.

COMPLEXO, MAS INSTIGANTE

Enfim, é isso. Eu repito: é um livro complexo, mas é instigante pela forma como é escrito, fazendo com que assuntos densos se tornem mais interessantes. Portanto, falo com muita tranquilidade: vale muito a pena a leitura. Pode ser um livro de difícil leitura e pode não conquistar logo de início, mas é importante dar uma chance, pois ele surpreende. E como surpreende! Espero que tenha gostado dessa resenha e até a próxima!

Ficha técnica

Confiança

Autor: Hernan Diaz

Páginas: 416

Editora: Intrínseca/Intrínsecos

Ano: 2022

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Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

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