Resenha: Forward - Blake Crouch & Outros

Olá, pessoal, tudo bem? É com prazer que trago para vocês a resenha de “Forward”, de Blake Crouch, N. K. Jemisin, Veronica Roth, Amor Towles, Paul Tremblay e Andy Weir. Pois é, todos esses escritores f*dões foram convidados por Blake para formar uma coletânea de seis contos. São histórias que misturam ficção especulativa e ficção científica. E foi esse livro que o intrínsecos nos presenteou na caixa de setembro. Então, acompanhem a resenha:

AS HISTÓRIAS DE “FORWARD”, DE BLAKE CROUCH & OUTROS

Certamente, explorar os limites da tecnologia na literatura tem se tornado cada vez mais comum. Aliás, quase todo mundo já pensou alguma vez sobre para onde estamos indo com tanto avanço – os benefícios e os perigos disso. E foi pensando nisso que Blake Crouch escreveu um conto, “Summer Frost”. Nele, conhecemos uma inteligência artificial e o envolvimento obsessivo de uma programadora com ela.

Mas Blake não queria explorar isso sozinho. Para tanto, chamou outros autores que completam a coletânea. Em “Pele de emergência”, N. K. Jemisin, o mundo acabou, depois do clima simplesmente colapsar. Mas um soldado retorna com uma missão. Em “Arca”, de Veronica Roth, uma cientista precisa catalogar espécies e informações para reerguer a civilização.

Amor Towler traz no conto “Você chegou ao seu destino” como a manipulação genética pode garantir um futuro de vantagens para o filho de um casal. Já em “A última conversa”, de Paul Tremblay, um homem acorda em um quarto sem qualquer lembrança de quem é. E em “Randomizando”, Andy Weir mostra o plano ambicioso de um casal para realizar um golpe em Las Vegas, usando computação quântica, a brecha perfeita para um hacker agir.

PRIMEIRO CONTO – SUMMER FROST

Se o objetivo de Blake Crouch era prender a atenção do leitor, ele consegue fazer isso em seu conto. Afinal, logo no primeiro capítulo, ele apresenta uma narrativa arrebatadora, mostrando a que veio. Nesse primeiro contato com os contos, temos muito suspense, ação e muitas perguntas, que o leitor espera que sejam respondidas no decorrer do conto.

A linha do tempo é “rápida”. Se passam anos em poucas páginas, o que faz sentido para um conto. E é interessante como as coisas se desenvolvem nesse meio tempo, e os assuntos que o autor consegue trazer à discussão. Mas o foco é no desenvolvimento de uma inteligência artificial, os limites da tecnologia moderna e a quebra desses limites na relação com o mundo real. E os personagens Riley e Max são brilhantemente trabalhados nesse ponto de vista.

Sem dúvida, é uma imersão na história, nesse universo alternativo ou especulativo. É muito interessante a forma como o autor consegue nos inserir na história, a partir de uma narrativa em primeira pessoa, com muitos diálogos e com uma fluidez digna de livros desse gênero – ainda que alguns termos sobre esse universo tecnológico possam dificultar um pouco a leitura. Mas não é nada que comprometa a leitura.

Também me surpreendeu que o autor ainda se preocupou em trazer uma linguagem neutra, principalmente por conta da IA. Enfim, é um tanto aterrorizante, com ares de suspense e terror. Lembra muito “Black Mirror”, da Netflix, desafiando os limites da tecnologia, nos mostrando até onde ela pode chegar. É realmente incrível o rumo que toma, a reviravolta e a mensagem.

SEGUNDO CONTO: PELE DE EMERGÊNCIA

Aqui, temos uma narrativa e uma escrita bem diferentes. Primeiro que o “protagonista” é alguém que não sabemos quem é e que não tem falas ou pensamentos. Só lemos o que ele ouve, de uma conversa entre ele e uma espécie de consciência, ou inteligência, de outro planeta. Essa voz é quem guia esse soldado de volta à Terra (ou Tellus, nesse universo criado pela autora).

Isso significa poucos diálogos, mas a trama parece tão maluca que é difícil largar, então a leitura avança rapidamente. Além disso, a escrita é interessante. Chega a ser engraçada a forma como essa inteligência fala com o tal soldado, o criticando por se encantar pela Terra, que eles simplesmente não conhecem mais. Afinal, eles foram embora há anos.

Mas a história em si é complexa. Primeiro porque temos uma “espécie” de pessoas que saíram dessa Tellus e hoje vivem em outro planeta. Contudo, eles não têm pele, vivem numa espécie de “corpo” ou compósitos, e a pele depende de células HeLa, que é o que o soldado busca.

Essa “espécie” que teve que sair da Terra parece um tipo de sociedade retrógrada e preconceituosa, como se todas as escolhas e decisões fossem baseadas no bem e na sobrevivência de poucos. Mas nessa viagem, eles descobrem que esse mundo não acabou, como previsto. Ainda assim, para as pessoas dessa sociedade, e os Fundadores, eles são superiores à espécie que vive na agora Terra.

O que me surpreende é que essa seleta parte da humanidade que habita outro planeta parece ter escolhido esquecer seus antepassados, a essência de quem eram. É um paralelo, sem dúvida, da nossa sociedade divisória e nem um pouco igualitária. E numa reviravolta interessante, essa nova Terra parece muito melhor, mais humana. Claro, é pura ficção, mas quem sabe?

O TERCEIRO CONTO DE “FORWARD”, DE BLAKE CROUCH & OUTROS: ARCA

Esse é o conto mais “normal” entre os três primeiros, sem o foco nas tecnologias em si, mas também tratando sobre o fim do mundo. Também foi o conto que menos me impactou, talvez um momento de calmaria depois de tantas coisas intensas. Mas a história é bem escrita, com uma linguagem que aproxima o leitor, e um desenvolvimento muito bom.

Samantha é a protagonista, responsável por pesquisar e catalogar diversas espécies de flores e plantas. E é nesse meio que mergulhamos, junto ao universo da mente humana diante de uma catástrofe mundial anunciada. Quando todos estão partindo para uma segunda Terra. E o que fica pra trás? E o que desse passado vai permitir que se construa o futuro? Ou seja, é uma descoberta sobre nós mesmos.

“VOCÊ CHEGOU AO SEU DESTINO”

Esse conto de Amor Towles é o mais “completo”, no meu ponto de vista, e o mais profundo também. Isso porque ele traz uma proposta maluca, mas instigante de ler. Sabemos que hoje a manipulação genética é um tema bastante discutido – inclusive, tem uma minissérie na Netflix (Seleção Artificial) que aborda esse assunto.

Ou seja, o autor une dois temas polêmicos. Além dessa questão da engenharia genética, temos uma importante discussão sobre privilégios. E é exatamente o que propõe a empresa que um casal busca para de fato escolher quem o filho será no futuro. A coisa é tão absurda que, ao longo do conto, vemos simulações sobre as três diferentes vidas que esse filho pode ter com a ajuda da manipulação genética.

E aí, percebemos que são visões que, aos olhos do pai, não parecerem satisfatórias – sem falar que parecem ser reflexo das vidas que os pais tiveram ou não. A magnitude desse pensamento é o ponto principal do conto. Quem somos nós para escolhermos quem ou como nosso filhos vão ser? É uma imposição genética, estamos condenados? Ou podermos construir nosso próprio destino?

Enfim, tudo isso com certeza mexe com o leitor, e creio ser o objetivo do autor. Mas tirando a trama em si do foco, devo dizer que a escrita de Towles é muito surpreendente, clara e fluída. É uma escrita que instiga o leitor a continuar lendo. Mas é também garantia de alguns arrepios.

QUINTO CONTO: A ÚLTIMA CONVERSA

Esse conto traz uma história agonizante, mas muito bem escrita. É uma técnica diferente do que estamos acostumados a ler – é como se você, leitor, fosse o personagem, envolvido na história. Tanto que o autor deixa um espaço em branco quando deveria citar o nome da pessoa. Uma história de apenas dois personagens – “você” e Anne. E o narrador, uma voz, detalha seus passos ao acordar sem memória, claramente ferido e se recuperando.

Então, vem a reviravolta final, quando tudo parece fazer sentido (ou nem tanto). “Você” não é mais você. É realmente maluco, trazendo à luz novamente a perspectiva do fim do mundo, mas de uma ótica diferente. Sem dúvida, a forma como o autor relata tudo isso é viciante, de não te deixar largar o livro. Realmente incrível, ainda que nem tudo faça muito sentido. Mas podemos especular… rs

ENFIM, O ÚLTIMO CONTO: RANDOMIZANDO

Talvez esse seja o conto mais dinâmico, e eletrizante também. Muito bem escrito por Andy Weir, a história tem uma narrativa objetiva e instigante. Aliás, é outra história que poderia ser mais um episódio de Black Mirror, mas também tem uma pegada “Onze homens e um segredo”. Afinal, computadores quânticos, hackers e uma mulher extremamente inteligente parecem ser os ingredientes perfeitos para um golpe.

“FORWARD”, DE BLAKE CROUCH & OUTROS, É MAIS QUE UMA COLETÂNEA

Eu não poderia explorar mais esses contos sem dar spoilers, então tentei ser mais objetivo. Mas quero destacar que a proposta de Blake Crouch ao unir todos esses escritores e explorar a ficção especulativa foi perfeita. Sem dúvida, todos os contos envolvem questões filosóficas, mas também entretêm e deixam o leitor de boca aberta com todas as loucuras que não estão necessariamente tão longe de nossa realidade.

Aliás, acho que o que tem em comum entre eles é exatamente o fato de revelarem diversas facetas do ser humano quando colocado em determinadas situações. Contudo, nesses casos, a maioria envolve coisas tecnológicas, futurísticas, e que a nós só cabe especular. São os limites dessas novas tecnologias colocados à prova pelo fator humano.

Enfim, galera, é isso. Eu amei a experiência de ler “Forward”, de Blake Crouch & outros. São seis histórias tão complexas, malucas e interessantes que parecem realmente seis livros diferentes. Acho que o mais incrível foi conhecer tantas escritas diferentes e novas – desses escritores, apenas Blake eu já havia lido (e foi de um livro do intrínsecos, “Recursão”, que tem resenha aqui).

Espero que tenham gostado dessa resenha, pessoal, e até a próxima!

Ficha técnica

Forward

Autores: Blake Crouch, N. K. Jemisin, Veronica Roth, Amor Towles, Paul Tremblay e Andy Weir

Páginas: 304

Editora: Intrínseca/Intrínsecos

Ano: 2021

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Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

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