Olá, leitores! Hoje trago a resenha do livro “King e as libélulas”, de Kacen Callender. Lançamento recente da Editora Nacional, a história me encantou logo pela sinopse. Assim, esperava uma história sensível tratando de temas delicados. E fico feliz em dizer que me surpreendi positivamente. Enfim, espero que aproveitem a leitura dessa resenha, como de costume.
Na história, conhecemos Kingston James, ou King para os amigos. Ele tem 12 anos e tem certeza que seu irmão, Khalid, se transformou em uma libélula do bayou, uma região pantanosa de Luisiana. O rapaz morreu inesperadamente, mas ele e King ainda são muito próximos, principalmente nos sonhos. No entanto, não é fácil lidar com tudo isso, ainda mais sem poder contar com seu melhor amigo, Sandy Sanders. Afinal, o último conselho em vida de Khalid para King foi que ele deveria se afastar de Sandy, já que o garoto poderia ser gay.
Ou seja, para o irmão, isso não poderia ser uma boa influência para King. Até que, um dia, Sandy desparece. Enquanto todos saem a sua procura, King descobre que o garoto está bem perto, em uma barraca no quintal, se escondendo do pai abusivo. Assim, retomando a amizade com o melhor amigo, os dois começam a se aventurar no bayou, entre as libélulas. Contudo, isso faz com que King seja obrigado a confrontar aquilo que sabe sobre si mesmo e as questões que envolvem a morte do irmão.
O DESENVOLVIMENTO DE “KING E AS LIBÉLULAS”
Quem narra a história é o próprio King. Tudo começa quando ele já perdeu o irmão e está a procura dele no bayou, onde King acredita que Khalid vive como libélula. É meio que uma fixação dele. E logo de início, já conseguimos ter uma ideia dos rumos que Callender vai tomar na narrativa. Aliás, é uma leitura fácil, no melhor sentido da palavra, com um bom e ágil desenvolvimento, sem deixar de lado o que importa.
Além de ter bons diálogos, Callender consegue prender o leitor com uma escrita sensível e muito rica. Afinal, não deve ser fácil a missão de dar a voz a um garoto de 12 anos, que está se descobrindo e tendo de viver o luto pelo irmão. Mas Callender consegue fazer isso de maneira muito delicada, inteligente e sincera. Mesmo sendo uma história que vai para a linha dramática, King é divertido em certos momentos e isso traz ainda mais leveza à leitura.
A DISCUSSÃO SOBRE O LUTO
Acho que o principal ponto de discussão é exatamente o luto. King parece ser o que mais sente a morte do irmão – talvez por conhecermos apenas a perspectiva dele. Mas conseguimos sentir o luto em todos da família. Ainda assim, King venera o irmão mesmo depois da morte. E por isso tem certeza que ele se transformou numa libélula. Sua missão agora é encontrar essa libélula que apareceu no velório do irmão, o momento em que ele soube.
E por venerar o irmão, vemos o quanto ele sente falta, dos conselhos, dos seus sonhos em que King prestava atenção em tudo. Hoje, são nos sonhos que eles se encontram. Então o próprio garoto narra, de uma perspectiva de uma criança indo para a adolescência, a raiva que surge dentro de si, reflexo de como as coisas acontecem antes e depois da morte do irmão.
E esse sentimento se aflora ainda mais quando entendemos que King é negro, de família negra, e que convive com o racismo da sociedade moderna. Por isso acho a ambientação, em Luisiana, tão importante também. Esse lugar em que eles vivem, contaminados pelo calor e pelo preconceito. Isso afeta muito quem King é e a pessoa que vai se tornar no futuro.
A OUTRA DISCUSSÃO DE “KING E AS LIBÉLULAS”
Callender também consegue trazer ao leitor a sensibilidade de tratar a sexualidade, principalmente nessa idade. Afinal, King também precisa lidar com Sandy, seu então melhor amigo e de quem se afastou a pedido do irmão. Isso porque o colega gosta de garotos e o irmão não queria que King tivesse esse “tipo” de contato. E King obedece. Mas quando Sandy foge para o quintal de King, vítima de abusos em casa, o garoto precisa rever as coisas.
E começa outro dilema para King, entre respeitar a vontade do irmão e apoiar Sandy. Essa guerra interna é palpável de tão bem escrita por Callender, pois elu traz também uma perspectiva familiar sobre tudo isso, de vários aspectos. Inclusive, as palavras de Sandy sobre o preconceito que sofre ser semelhante ao que as pessoas acusam seu avô racista de ser são de arrepiar.
Por isso acho essa obra tão importante e necessária, principalmente nos dias atuais. Ela não é narrada em uma época em que o preconceito era normalizado. É ambientada no nosso presente, quando esse tipo de coisa ainda acontece, ainda que tenha maior discussão. Mas é com livros como esse que vemos como é importante discutirmos ainda mais racismo e homofobia. Mesmo, ou ainda mais, na adolescência.
Porque essas crianças e adolescentes vão se tornar o futuro. E uma geração dessa precisa aprender a debater isso. Ao mesmo tempo, King relata problemas comuns de garotos da idade dele, seja na escola, seja a primeira paixão e as amizades. Ou seja, é outra preocupação de Callender, de estar presente na história, ainda que em uma escala de importância menor.
CONCLUINDO…
Enfim, não há mais a dizer sobre essa história. É incrível, surpreendente e emocionante de maneira inimaginável. É brilhante a forma como Callender explora assuntos tão importantes de forma tão delicada e sincera. Identidade, luto, sexualidade e raça. Assuntos necessários e bem desenvolvidos pelo autor ao longo da história. Uma experiência única e necessária para qualquer leitor, no meu ponto de vista.
Amei conhecer King, amei conhecer Sandy e ver como ambos cresceram tanto em pouco tempo, em poucas páginas. Também amei a forma como Callender consegue descrever tão bem o amor de King por Khalid, e como isso era recíproco. É um sentimento quase físico, de tão bem descrito que é. Portanto, “King e as libélulas” vale muito a pena a leitura. Fica minha indicação!
Espero que tenham gostado da resenha e até a próxima!
Ficha técnica
King e as libélulas
Autore: Kacen Callender
Páginas: 208 páginas
Editora: Nacional
Ano: 2022