Olá pessoas! Prontos para mais uma resenha fresquinha? Hoje quero falar com vocês sobre o livro “Noites Simultâneas”, do jornalista brasileiro Maurício Melo Júnior, lançado pela editora Bagaço. De antemão, agradeço à Oasys Cultural pelo livro incrível que nos foi disponibilizado. Amei conhecer essa história que relembra um dos tempos mais difícil do nosso país: a ditadura militar. Essa discussão, hoje, se faz ainda mais pertinente. Mas vamos focar no livro. Bora!
Bom, como adiantei, o livro se passa na época da ditadura militar brasileira que muitos de nós conhecemos apenas pela literatura, pelos livros de história, ou por histórias de familiares, amigos e conhecidos. Pois bem, somos apresentados ao moço e à moça. Mas a história em si é do moço, filho de proprietários rurais e que sai em busca da formação de medicina na capital (não necessariamente a paulista). Lá, ele encontra a moça e os dois entram para a militância contra a ditadura. E então, de fato, o livro começa.
Resumidamente, esta é a história. Não conhecemos os nomes dessas pessoas, nem onde elas vivem. Só podemos especular e, pelo que li, muitos acreditam que a história se passa no Nordeste, com passagens por Brasília, o que faz sentido. O próprio autor é pernambucano. Mas acho que a mensagem que o autor passa é de que não importam nomes, das pessoas ou das cidades, o que importa é o quão cruel foi esse período brasileiro que todos lembramos até hoje como sinônimo de violência, censura, caos e sofrimento. Mas também de muita luta, a luta de muitas pessoas como o moço e a moça.
Bom, pelo que li, esse livro começou a ser escrito há muitos anos, com outro nome e em primeira pessoa. Anos depois, o romance foi reestruturado e se tornou essa obra fascinante escrita em terceira pessoa, mas dividida em partes em primeira pessoa, o que eu acredito que sejam momentos do moço em cartas para a moça. Creio nisso por conta de suas palavras, pois parece que está conversando com ela.
Bom, falando sobre essa escolha do autor de não dar nome às pessoas que são personagens desse livro, conhecemos todos apenas por apelidos ou por suas características, físicas ou de personalidade. Essa escolha do autor, na minha visão, remete diretamente àquela época, por duas razões: um símbolo, como homenagem aos personagens reais da ditadura, que lutaram bravamente pela reconquista da democracia, da liberdade; segundo por demonstrar os grupos de resistência, que, pelo que li, não usavam nomes, eram conhecidos por “codinomes”, até por segurança. Se isso era um fato, não sei, mas é algo que, pra mim, é remetido nessa decisão do autor.
Como eu disse, essa história é praticamente a vida do moço, que não termina o livro como sendo “moço”, a partir do momento que entra para a resistência. A relação dele com a moça me pareceu meio cinematográfica, quando vemos uma relação em meio à uma guerra, ou algo do tipo, em que ambos parecem estar juntos “até a morte”. Não estou dizendo que este seja o caso dessa história, mas a relação dos dois me lembrou muito isso.
Preciso dizer que o personagem denominado como “moço” é inspirador, talvez um tanto quanto utópico, assim como o livro em si tem um pouco das duas coisas. Mas sua luta é inspiradora, e o autor consegue colocar isso de maneira muito interessante, mostrando realmente o quanto para o moço era necessária a resistência. Acho que um dos momentos mais pesados da obra é quando ele é preso e torturado. A descrição dos métodos utilizados para tortura daquela época é estarrecedor, aterrorizante e arrepiante. E o pior é saber que tudo isso era feito em nome da pátria amada.
Falando um pouco da narrativa do livro, novamente me surpreendi com um livro escrito de uma forma totalmente diferente da que estou habituado. O autor usa de uma narrativa praticamente poética, se posso definir assim. Os capítulos são curtos e ágeis, assim como a linguagem é clara e objetiva. No entanto, há parágrafos longos, quase sem pausas, sem pontos finais. É como se o autor estivesse “desabafando” tudo aquilo, jogando aquelas palavras, sem nos deixar descansar. E isso é positivo, principalmente por não ser algo que estou acostumado a ler. O vocabulário, então, é riquíssimo. Me surpreendi muitas vezes tendo de pesquisar determinadas palavras. Isso não dificulta a leitura, e nos permite conhecer melhor nossa língua.
Bom, acho que já me estendi demais, como sempre. Quero finalizar dizendo que sim, eu amei ler esse livro, mas confesso que teve partes em que me “perdi”. A narrativa é interessante, mas por não ser uma narrativa que estou acostumado, acabei me perdendo em alguns momentos. Isso não interferiu no resultado, na mensagem recebida e no prazer de ter lido essa obra. Como eu disse no começo, em tempos como esse que vivemos, é importante lembrarmos desse passado cruel e termos em mente que apesar de estar no passado, esse período sempre fará parte da nossa história.
E é isso. Eu espero de coração que tenham gostado dessa resenha e aguardo vocês para comentar sobre a obra, sobre esse período do Brasil, enfim, sobre o que vocês quiserem. Até a próxima!
Ficha técnica:
Noites Simultâneas
Autor: Maurício Melo Júnior
Editora: Bagaço
Ano: 2017
173 páginas