O Palácio de Papel

Olá, tudo bem? Hoje trago a resenha de “O Palácio de Papel”, de Miranda Cowley Heller. Esse foi o livro de novembro do intrínsecos, clube de assinatura da Intrínseca. Eu não sei como classifico essa leitura, mas sei que foi surpreendente de maneiras distintas. E o ponto forte, creio, é a escrita da autora. Enfim, vamos lá. Espero que aproveitem a leitura.

A HISTÓRIA DE “O PALÁCIO DE PAPEL”

Elle está na faixa dos 50 anos. É casada, mãe de três filhos e, neste momento, está no lugar perfeito: o Palácio de Papel. É esse o lugar que sua família passa o verão há anos, e também palco de muitos acontecimentos. Principalmente na vida de Elle. Aliás, ela escreve mais um capítulo de sua história nesse lugar quando, na noite anterior, ela e seu melhor amigo, transaram nos fundos da casa onde estão.

Então, começa a contagem regressiva, em que Elle deverá decidir, nas próximas 24 horas, entre a vida feliz com Peter, seu marido, a quem ama de verdade, ou a vida que sempre quis com o amor de infância. Enquanto relata essa jornada, ela também relembra o que aconteceu da sua infância até a vida adulta. Sua amizade com Jonas, seu casamento com Peter e os traumas que a perseguiram até hoje.

A NARRATIVA E A ESCRITA DE MIRANDA COWLEY HELLER

Sem dúvida, essa é uma narrativa diferente do que estou acostumado a ler. Não pelo fato de revezar muito entre o passado e o presente. Mas quando ela relata acontecimentos do passado, é como se fôssemos transportados para aquele tempo e espaço dela. Não é como se ela estivesse contando ao leitor o que aconteceu lá. É como se ela fosse aquela garota/adolescente, e podemos ver o que ela está fazendo e vivenciando.

Mas o que se destaca, mesmo, é a escrita de Miranda Cowley. A autora usa uma linguagem despojada, aberta, sincera e que atrai o leitor. Isso faz com que a leitura avance num bom ritmo. Ainda que seja uma narrativa mais densa, a leitura flui, facilitada pelos capítulos curtos, os diálogos e a própria escrita da autora, claro. E o que me conquistou, na verdade, é fato de ser uma história muito adulta, um dilema moral que também envolve o leitor.

A TRAMA DE “O PALÁCIO DE PAPEL”

Nesse sentido, preciso falar um pouco da trama ou tramas desse livro. De início, não parece haver essa trama bem desenvolvida. Como disse, ela se reveza muito entre o passado e o presente, mas o foco da história parece mais o passado dela, e o que a tornou a mulher de hoje. Na verdade, são fragmentos da vida de Elle, os percalços, todos os padrastos e madrastas. Ela conta seu desenvolvimento como mulher, as influências dos pais e avós na sua vida.

Então, aos poucos, percebemos que uma trama é, de fato esse dilema moral que a protagonista se envolve ao trair seu marido com o amigo da infância. Esse desejo de Elle e Jonas se torna o foco da história, intensificado por tantos anos e que finalmente desencantou. E então começamos a ver as consequências disso, a viagem de Elle ao passado e como a relação dela com Jonas está ligada a um trauma de Elle e uma tragédia.

E é nesse ponto que também percebemos que ela também é uma vítima, das circunstâncias que a levaram a ser quem é hoje. Que, enquanto criança, ela sofreu calada muitas vezes para ver a felicidade dos pais (não necessariamente juntos). Os traumas da sua adolescência em meio a amizade e paixão por Jonas. Isso tudo foi moldando a mulher Elle desse presente, e que a leva ao ápice de sua relação com Jonas.

UMA VERDADEIRA PROTAGONISTA

Aos poucos, nos vemos envolvidos na vida de Elle de uma maneira muito íntima. Ela vai relatando momentos marcantes de sua vida. Da separação dos pais, do relacionamento com padrastos, madrastas e irmãos postiços, o encontro com Jonas, o encontro com Peter, seu marido, enquanto também acompanhamos seu presente. Isso torna a história muito movimentada, com o foco em Elle e sua jornada.

Elle é uma protagonista indecifrável, mas só de início. Pois logo mergulhamos em sua mente, e passamos a conhece-la como alguém que nos conta seus segredos e frustrações. Assim, eu creio que a autora consegue construir uma protagonista “de verdade”, que parece real, que tem dilemas e histórias como todos nós. E que também enfrenta problemas reais que muitas pessoas enfrentam. Por isso é fácil se identificar com ela, entendê-la.

A DESPEDIDA

Quando chegamos ao fim dessa história, é como se estivéssemos dando adeus a esses personagens. De fato nos envolvemos com a história de uma forma incrível, sentindo as incertezas de Elle, o medo da escolha pairando sobre ela e nós. E nos dividimos também, sem saber qual a melhor decisão. Principalmente pois, pela própria narrativa de Elle, o casamento com Peter é feliz. O que não significa que ela se sinta realizada como mulher.

Também é no final que percebi como esse lugar “Palácio de Papel”, em que a família de Elle passa tantos verões, influência na vida dessas pessoas, principalmente Elle. Como ela diz, é um lugar que conhece todos seus segredos e, por si só, o “Palácio de Papel” também é um personagem. Eu acho incrível como determinados lugares influenciam numa história como essa, em que o cenário é quase todo lá e como há tantas histórias.

Enfim, eu acho que é isso. Esse livro é um misto de sentimentos, alguns controversos, mas é interessante ver a construção de Elle, ver seu amadurecimento, e como podemos nos identificar com ela em muitas de suas provações. Então, acho que vale muito a leitura! E espero que tenham gostado dessa resenha, pessoal. Nos vemos na próxima!

Ficha técnica

O Palácio de Papel

Autora: Miranda Cowley Heller

Páginas: 400

Editora: Intrínseca/Intrínsecos

Ano: 2021

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Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

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