Resenha: Os garotos do cemitério - Aiden Thomas

Olá, pessoas, tudo bem? Hoje trago para vocês a resenha de “Os garotos do cemitério”, de Aiden Thomas. Eu ouvi falar desse livro há um tempo já, quando ele foi lançado nos Estados Unidos. Logo, a história ganhou muita repercussão local e internacional. Então, ficou difícil não ouvir falar sobre, dada a narrativa do livro e a história do autor. Enfim, espero que aproveitem a leitura dessa resenha:

A HISTÓRIA DE “OS GAROTOS DO CEMITÉRIO”

Yadriel é um garoto trans e gay. Isso é fato para ele. Mas a sua tradicional e latina família não aceita muito bem isso. No entanto, ele está determinado em mostrar que sua identidade de gênero e sua orientação sexual não o impedem de ser um bruxo. Isso porque, para a comunidade bruxe, a Senhora Morte não o aceitaria e, por isso, não permitem que ele passe pelo ritual. Portanto, Yadriel resolve se provar perfeitamente capaz de ser um bruxo, e conta com a ajuda de sua prima e melhor amiga, Maritza.

Seu intuito é encontrar o espírito do seu primo assassinado e libertá-lo. Contudo, ele acaba invocando ninguém menos que Julian Diaz, o bad boy da escola. E aí os planos de Yadriel ficam ameaçados, pois Julian tem coisas que precisa resolver, e não deixará que o garoto bruxo o liberte desse mundo tão facilmente. Daí, Yadriel não tem muita escolha e resolver ajudar Julian a descobrir o que aconteceu com ele. Afinal, é a única maneira de conseguir o que quer. Mas, à medida que os dois passam um tempo juntos, Yadriel percebe que não quer que Julian se vá.

ESCRITA INCLUSIVA E SENSÍVEL

Não tem como não destacar, em primeiro lugar, a escrita do autor. É uma escrita representativa, inclusiva e acessível. É perceptível o cuidado que Aiden teve ao escrever esse livro para torná-lo o mais plural possível. E que leitores trans, gays, da comunidade LGBTQIA+ no geral se sintam representados – o que ainda é raro ver na literatura. Além disso, a escrita de Aiden permite que a leitura seja fluída, nos fazendo mergulhar na história.

Quando eu falo de uma escrita mais inclusiva, não falo apenas em relação à comunidade LGBTQIA+. Isso porque Aiden insere na sua história muito da cultura latino americana. Então, isso é bastante presente e tratado com um carinho especial por Aiden ao retratar e escrever sobre essa cultura. É o que torna esse livro uma fantasia latina, pouco explorada na literatura, e LGBTQIA+, que agora tem ganhado mais visibilidade.

Infelizmente, no processo de tradução, pode acontecer de essa escrita tão inclusiva se perder um pouco. Contudo, é importante salientar que a Galera Record teve um cuidado especial com esse livro. Desde a tradução, até a uma leitura sensível e o processo de edição. E eles colocaram uma nota logo no início do livro em que demonstram esse trabalho em tentar traduzir esse livro num formato mais próximo do escrito por Aiden.

UMA HISTÓRIA SOBRE AMOR, AMIZADE E REPRESENTATIVIDADE

Mais do que uma escrita inclusiva, a história em si é totalmente sobre representatividade e diversidade. É raro vermos protagonistas trans, como Yadriel. Aliás, é ainda mais difícil ver protagonistas que, de alguma forma, tentam fugir dos estereótipos em relação à identidade de gênero. Então aquele famoso “é sobre isso” desse livro está principalmente ligado ao protagonista e sua história.

Mas “Os garotos do cemitério” também vai além dessa questão. É um livro que se pauta muito nas relações entre as pessoas, amizades, família e, claro, a comunidade bruxe e latina. E o autor constrói todas essas discussões por meio da fantasia. Essa obra poderia se confundir com tantas outras histórias de fantasia. Mas os pontos fortes – esses que já citei – são o que a tornam única e incrível.

O DESENVOLVIMENTO DE “OS GAROTOS DO CEMITÉRIO”

O desenvolvimento da história é outro ponto que destaco. Um terço do livro se passa em algumas horas, o que pode dar a impressão de uma história “arrastada”. Contudo, ao passo que a linha do tempo não avança num ritmo muito acelerado, muita coisa acontece nas primeiras 100 páginas. E o restante do livro segue o mesmo desenvolvimento, com muita coisa acontecendo em um curto espaço de tempo.

Na “introdução”, conhecemos um pouco de Yadriel, seus anseios como bruxo, a comunidade bruxe, seus costumes e cultura. Também nos familiarizamos aos costumes latinos da família de Yadriel. E isso é interessante demais de ler. E tudo acontece enquanto ele e a prima precisam lidar com Julian. Isso rende boas risadas, também, pois é engraçado ver como Julian lida com o fato de ser um fantasma.

Depois da metade do livro, as coisas começam a ficar mais sérias. O autor coloca um novo ritmo na história, pois ele começa a criar uma ar de mistério também envolvendo Julian, o primo de Yadriel e o fato de os corpos deles ainda não terem sido encontrados. Então, esse suspense dá uma nova “pegada” para o livro, o deixando ainda mais interessante.

Os diálogos também são ótimos e bem escritos nessa história. Quando Julian é introduzido, ainda que seja logo no início, o livro já ganha um novo ritmo, assim como os diálogos ganham um tom mais divertido. Ele é um bad boy, um rebelde, mas é um espírito e isso rende ótimas cenas com Yadriel e Maritza. Além disso, vemos a mudança, principalmente de Yadriel e Julian, ao longo. Como essa relação também os muda.

CONCLUINDO…

Depois de ler os capítulos finais desse livro, em que as coisas realmente ficam agitadas, emocionantes e tensas ao mesmo tempo, não há outra forma de resumir: que história linda e surpreendente. Aiden consegue surpreender, trazer reviravoltas que dão um gás para o livro e é tudo muito bem escrito e estruturado. Ele não deixa pontas soltas, dando as respostas necessárias. E o desfecho da história é simplesmente incrível. Faz tudo valer a pena.

Então, eu acho que esse livro ganha pontos importantes em vários sentidos. Além de escrever uma fantasia incrível, que entretém os leitores, Aiden abre uma discussão importante sobre protagonistas e escrita representativos na literatura. E a Galera Record também se destaca por conseguir ser fiel, dentro das possibilidades da nossa língua portuguesa, à escrita de Aiden.

Portanto, e não por menos, “Os garotos do cemitério” vai para minha lista de leituras favoritas da vida – e com lugar de destaque no ano. Acho que é um livro que dá voz e representa muitas pessoas. Enfim, espero que vocês tenham a oportunidade de ler essa história – e obviamente fica aqui minha indicação – e também possam se apaixonar por Yadriel e Julian. Até a próxima!

Ficha técnica

Os garotos do cemitério

Autor: Aiden Thomas

Páginas: 350

Editora: Galera Record

Ano: 2021

Onde comprar: Amazon (físico) | Amazon (e-book)

Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

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