Olá, galera! Cá estou para trazer mais uma resenha para vocês. E hoje é dia de falarmos de “Pachinko”, de Min Jin Lee. Esse foi o livro da caixa de outubro do Intrínsecos. Uma leitura completamente inesperada, com certeza, mas que me trouxe uma experiência histórica, política e geográfica muito interessante. Bom, acompanhem a resenha e espero que aproveitem a leitura:
A SINOPSE DE “PACHINKO”, DE MIN JIN LEE
No início dos anos 1900, a adolescente Sunja, filha adorada de um pescador aleijado, apaixona-se perdidamente por um forasteiro rico que frequenta a costa perto de sua casa, na Coreia. O gangster cuja fala emula um sotaque japonês e cujas roupas se distinguem das de todos na região promete a ela o mundo. Então Sunja engravida e descobre que ele já é casado.
A jovem se recusa a ser comprada como amante. E sua vergonha e desonra em dar à luz uma criança fora do casamento se amainam no último minuto, com o pedido de casamento de um pastor religioso que está de passagem pelo vilarejo, rumo ao Japão. A decisão de abandonar o lar e rejeitar o homem poderoso de quem engravidou dá início a uma saga dramática que se desdobrará ao longo de gerações por quase cem anos, acompanhando os destinos daquela criança ilegítima gerada na Coreia e de seu futuro irmão, filho do pastor.
No romance movido pelas batalhas enfrentadas pelos imigrantes, os salões de pachinko – o jogo de caça-níqueis onipresente em todo o Japão – são o ponto de convergência das preocupações centrais da história: identidade, pátria e pertencimento. Para a população coreana no Japão, discriminada e excluída – como Sunja e seus descendentes -, os salões são o principal meio de trabalho e a chance de tentar ascender financeiramente.
A INTRODUÇÃO DA HISTÓRIA
Antes de mais nada, quero falar da introdução dessa obra. É interessante que a autora não começa esse livro da forma “tradicional”, que estamos acostumados a ler – geralmente com um clímax, ou algo mais simbólico, para depois começar a contar de fato a história. Não, Min Jin Lee vai introduzindo aos poucos, começando por um pescador e sua esposa que trabalham pelo seu sustento, enquanto tentam ter filhos, vivendo numa época em que o Japão dominou a Coreia, no início do século 20.
Então, devagar, sua história vai se engrandecendo. Vale destacar que a escrita da autora é incrível e te conquista logo no início – fazendo contraponto com esse começo fora do “padrão”, de colocar um gatilho para deixar os leitores curiosos. Ela foge disso. Mas dá pra sentir que é uma história intensa, ainda no começo, pela forma como ela escreve. No entanto, isso não torna a leitura tão “fácil”, o que não é necessariamente ruim.
Ou seja, mesmo que seja uma leitura densa, a história é recompensadora. Intensa, cruel, mas esperançosa ao mesmo tempo. A religiosidade acaba tendo um papel importante também. Tem uma parte que se assemelha a uma pregação, o que pode gerar diversas interpretações. Acho que é algo que varia de leitor para leitor. A mim, me incomodou um pouco. Mas no fim eu entendi que foi algo “necessário” para completar a história criada pela autora.
A COLONIZAÇÃO RETRATADA EM “PACHINKO”, DE MIN JIN LEE
Com certeza, a questão da colonização da Coreia pelo Japão é o ponto alto explorado pela autora, o que interfere na vida de todos os personagens. E depois vem a Guerra, e conseguimos ver como era esse momento vivido lá no Japão e na Coreia. Estamos acostumados a ver histórias sobre a Alemanha nazista, mas pouco sabemos sobre histórias como essa, em que era necessário mostrar lealdade ao imperador, caso contrário você estava cometendo um crime.
Mas, “Pachinko” também é uma imersão a esses países, seus costumes, paisagens e a personalidade das pessoas. Costumes que se assemelham em muito a muitas coisas no mundo todo durante o século 20, como o machismo, as condições desumanas para quem está do lado “errado” da história, o preconceito. Portanto, o livro tem muita representatividade.
E tudo isso ajuda a moldar a história da autora. De certa forma, a guerra, a colonização, o preconceito, o orgulho e o patriotismo influenciam na vida de todos os personagens de diferentes formas. E com isso, mudam as perspectivas de cada para o futuro. Sunja, por exemplo, não é aquela mesma pessoa que era quando engravidou, no fim da história. Ela mantém suas “raízes”, mas é uma outra pessoa. Suas dores e suas conquistas a transformaram.
Além disso, de forma muito natural, a autora insere também a situação política ao longo do século 20, tanto na Coreia quanto no Japão. O foco parece ser o primeiro, ainda que a maior parte do romance se passe no Japão. Aliás, há muitas influências do Japão, e dos demais envolvidos na Segunda Guerra Mundial.
SALTOS TEMPORAIS E A DEMORA PARA CHEGAR AO MOTE DO LIVRO
Outro ponto interessante da obra é que há alguns saltos temporais. Ou seja, não demoramos muito em um momento da vida dos protagonistas. A colonização vem e passa, assim como a Segunda Guerra e a guerra na Coreia. E, claro, os dramas de cada, influenciados por esses momentos históricos desses países. Então tudo isso passa de forma “rápida”, mas como são vários momentos, isso torna a história mais longa.
Vale ressaltar, ainda, que a autora começa a introduzir o “mote” do livro, e que dá o nome à obra, apenas na metade dele. No entanto, só depois de 100 páginas é que de fato começamos a nos aventuras nos pachinkos. E a entender como eles se tornam a convergência entre os personagens e os assuntos que a autora discute, principalmente a pátria e a identidade.
OS DIVERSOS PROTAGONISTAS DE “PACHINKO”, DE MIN JIN LEE
Ainda que Sunja seja a protagonista “inicial”, a autora escreve sua história para que outras pessoas também a protagonizem. Principalmente os filhos de Sunja, Noa e Mozasu. No entanto, sempre voltamos à Sunja. Ela, na minha visão, assim como os pachinkos, são o ponto de convergência das histórias. Muita coisa acontece com os demais personagens do livro por conta das atitudes da Sunja. Inegavelmente, a vida dela é muito sofrida, entre altos e baixos, e nos remete a muitas histórias dessa época, de pessoas de origem mais simples e sem muitas alternativas.
Inclusive, eu acho que “Sunja” poderia ser o nome do livro, na minha visão. Eu consigo entender porque “Pachinko” foi o escolhido pela autora, por esse ponto de encontro das gerações depois de Sunja, mas é ela quem está presente nas entrelinhas. Novamente, são suas atitudes que desencadeiam tudo o que acontece com os personagens.
Dito isso, não tenho vergonha de admitir que chorei durante certos momentos do livro. Sem dúvidas, é um livro emocionante, e muito forte, sobre raízes. Nessa mesma linha, a obra possui reviravoltas bastante repentinas. Não é algo que esperamos, certamente, mas que nos instiga a continuar a leitura. E mesmo ao longo de tantas páginas, a autora continua introduzindo e nos apresentando personagens emblemáticos, emocionantes e que representam várias histórias ao mesmo tempo.
UMA LEITURA INTENSA, SEM DÚVIDAS
Provavelmente, a melhor palavra para descrever esse livro seja “intenso”. É uma viagem ao século 20, no Japão e na Coreia, com todas as características desses países, culturais ou políticas. No entanto, o ponto mais forte da obra é esse preconceito dos japoneses com coreanos, essa rivalidade que marcou a guerra e o século 20. É algo que se assemelha às histórias relacionadas ao racismo. Ou qualquer outro preconceito que existe por ser de outra cor ou religião, por exemplo.
Por fim, queria que a autora tivesse explorado mais a divisão da Coreia. É uma coisa que ficou subtendida apenas. E como ela estava falando sobre nações (Pátria-mãe), então esse seria um assunto que poderia ser abordado. Eu sei muito pouco sobre a divisão da Coreia, que se tornou hoje a Coreia do Sul e a Coreia do Norte. Mas acredito que a autora não usou esse “artifício”, exatamente por já explorar outros momentos históricos da região.
Uma última coisa que queria comentar é que “Pachinko”, de Min Jin Lee, tem muitas mortes. De me surpreender muito, inclusive. Mas é algo que move a história também, sem sombra de dúvidas. O importante é que consegui absorver tudo o que a autora quis transmitir. E consegui sentir a força dessas histórias. Pois elas têm força, têm raízes e têm emoção. E com certeza me conquistaram!
Enfim, é isso galera. Não há mais nada que posso dizer se não: leiam esse livro (assim que ele for lançado). Vale muito a pena leitura. É uma aula de história. Mas também uma lição sobre aceitação, preconceitos e como isso pode mudar a vida das pessoas. Então, é um livro imperdível. Espero que tenham gostado dessa resenha. Me contem o que acharam nos comentários, ok? Até a próxima!
Ficha técnica
Pachinko
Autora: Min Jin Lee
Páginas: 528
Editora: Intrínseca/Intrínsecos
Ano: 2020
Onde comprar: Amazon (físico)
[…] novembro do clube. Mas antes, só pra lembrar, o livro de outubro, “Pachinko” já foi resenhado aqui! Em seguida, vamos para o que interessa. Porém, não se esqueçam: daqui pra frente temos […]