Livro A família Mandible - Lionel Shriver

Olá, leitores! Tudo bem? Hoje trago para vocês a resenha de “A família Mandible”, de Lionel Shriver. Esse foi o livro da caixa de janeiro do Intrínsecos (unboxing aqui). Quando soube que livro era, minhas expectativas eram ótimas. Mas eu não fazia ideia de como eu iria me decepcionar com a leitura, infelizmente. Para resumir, a ideia é ótima, mas na prática, não funcionou comigo. Enfim, acompanhem a resenha onde explico o que achei da obra:

A HISTÓRIA DE “A FAMÍLIA MANDIBLE”

Sejam bem-vindos a 2029, nos Estados Unidos da América. Um país que, outrora, foi considerada a maior potência mundial. Mas isso já é não mais uma realidade quando um ataque coordenado ao dólar americano faz a moeda desvalorizar, os preços dispararem e a vida dos americanos ficar insustentável. É isso o que acontece com os Mandible. O patriarca da família, Douglas, vê sua fortuna virar pó, com tudo o que acontece no país. Automaticamente, os descendentes também já não podem contar com a herança.

Florence é uma dessas descendentes. Ela e o marido, Esteban, conseguem se manter, a sua maneira, à crise que vivem os EUA. No entanto, quando seus familiares vão perdendo tudo, ela acaba sendo obrigada a receber em sua casa essas pessoas. Aos poucos, a casa vai se abarrotando de gente, como a tia Nollie, uma escritora expatriada, que volta à América do Norte depois de anos, a irmã de Florence, Avery, e sua família, entre outros. Enquanto tudo vai desmoronando, Willing, filho de Florence, parece ser o único que entende a crise que os EUA vivem.

O CONTEXTO

Bom, primeiro, é importante explicar que essa é uma distopia, como muito bem sugere a sinopse do livro. Sem dúvida, é isso que a autora entrega. Mais do que isso, estamos num futuro imaginado por ela, que poderia muito bem se tornar realidade. Isso porque há muita coisa acontecendo em nossa realidade, economicamente e ambientalmente, que de fato não é difícil chegarmos à distopia da autora.

A autora introduz sua história como se os EUA tivessem passado por algo que abalou muita gente e gerou muitas consequências. Aparentemente, eles superaram, de alguma forma. Mas ainda é preciso racionar água, por exemplo. Ou pelo menos algumas pessoas vivem assim, enquanto outros têm uma visão menos radical da situação. Isso, na minha visão, foi uma maneira de a autora inserir a discussão sobre políticas de esquerda e de direita, o que foi interessante.

E aos poucos, Shriver também nos apresenta seus personagens, suas peculiaridades, diferenças etc. Outro ponto curioso é que a autora usa termos futuristas e “diferentes”, comuns em distopias. Tais como lat (referência a latinos), Idapedra (Idade da Pedra), telafleX (substituto dos smartphones e derivados), bostejanta, bancor (a  nova moeda internacional), entre outros. Além disso, há uma trama interessante sobre como os latino-americanos, de certa forma, ganham mais notoriedade nos EUA, incluindo a eleição do primeiro presidente latino.

A NARRATIVA DE “A FAMÍLIA MANDIBLE”

Infelizmente, a narrativa desse livro vai se tornando mais e mais entediante e cansativa ao longo das páginas. Com poucos diálogos e muitos monólogos sobre economia, moeda americana e outras coisas, eu acabei me perdendo na história. Sem falar que não sabemos, de início, quem protagoniza ou antagoniza a história. O foco parece ser Florence e sua família, mas há outros personagens que também deixam o livro mais confuso, pelo excesso mesmo. Sem falar do próprio dólar e a sociedade norte-americana, nas entrelinhas.

Mas outra coisa que dificulta a leitura são os capítulos longos. Ao mesmo tempo que há um excesso de personagens, parece haver um excesso de informações em um único capítulo. Isso nos deixa um pouco cansados. E há uma falta de diálogos bem construídos, que ajudariam a mover a história. Embora, para mim, ela tenha falhado na execução, o contexto é interessante e a escrita da autora é inteligente, com um vocabulário rico. Entretanto, ela não me prendeu.

A verdade é que a autora vai inserindo coisas e mais coisas na história que, para mim, soaram desnecessárias. Isso não é exclusividade dela. Já me deparei com vários romances assim. Mas, aqui, parece atingir um nível de me deixar entediado, diferente de todos os outros. Coisas que nem lembro, porque simplesmente não entraram no meu cérebro enquanto eu lia. Mas eu sabia que estavam ali, porque demorava horas pra ler. E o pior: toda hora eu me distraia com algo mais interessante que a leitura. E isso é péssimo.

AULA DE ECONOMIA?

Como disse acima, há algumas partes em que a autora usa de monólogos relacionados a economia, PIB, moeda americana etc. Isso, novamente, soa entediante, apesar de, em teoria, ser interessante. Para algumas pessoas. E tudo parecer voltar à questão do dólar, que de fato é o mote do livro dela. De certa maneira, essas partes ajudam a contextualizar a história. Entretanto, ao mesmo tempo, nos entedia. Principalmente porque o tom que a autora usa, na minha leitura, foi algo parecido como uma aula de economia.

Parece até que a autora tenta te dar lição de moral sobre gastos demais. Ou como os ricaços começaram a perder dinheiro e agora estão devastados. Tudo isso é bom, na ideia, principalmente a crítica ao capitalismo. Mas, na prática, a escrita da autora simplesmente não funciona. Isso pode ser subjetivo? Pode. Tenho certeza que quem gosta do tema pode se interessar mais do que eu. Mas falta algo para atrair outros leitores também.

WILLING – O PERSONAGEM MAIS INTERESSANTE

Mudando um pouco de assunto. Willing, filho de Florence, 13 anos. Certamente, ele sabe demais pra sua idade. Além disso, ele tem um ar sombrio. Mas imagino que ele seja reflexo do que a autora pensa ser alguém que nasceu no mundo que ela criou. Que cresceu nessa distopia. Chega a ser engraçada a forma como ele fala e os diálogos com sua mãe. Mas uma coisa admito, ele é melhor explicando economia do que outros adultos que trabalham na área.

Ao mesmo tempo, suas falas sinceras são até que divertidas. Principalmente a afronta e essa sinceridade descabida. Tipo um choque de realidade, sabem? Ele é meio que o responsável por tentar colocar algum senso na cabeça dos familiares, de que não está tudo bem. Os EUA já foram um país de primeiro mundo. Nesse futuro deles, não são mais. Portanto, ele se tornou o personagem mais interessante e emblemático dessa história.

A CONCLUSÃO DE “A FAMÍLIA MANDIBLE”

A história vai ganhando mais minha atenção muito depois da metade. Quando as coisas começam a se deteriorar num ritmo maior para a família Mandible. Para mim, a descrição da autora quase se aproxima de um cenário pós-apocalíptico. Nada relacionado a zumbis etc., mas tipo pessoas invadindo as casas das outras, falta de produtos nos mercados, entre outras coisas.

Devo confessar que mais para o final do livro a história toma um rumo diferente e mais interessante. Pelo menos me prendeu mais do que todo o resto. Parece que a autora entregou tudo o que tinha no final. Ela soube jogar com o sarcasmos, de maneira muito inteligente, devo confessar. E eu acho que, de fato, essa mudança na narrativa reflete na ideia da autora para toda a história do livro.

Enfim, galera. Há pontos interessantes na história. Apesar de ficarem para segundo plano. Mas não se enganem. Não é uma narrativa complicada ou difícil de entender. É uma família indo do luxo ao lixo e tendo lidar com isso num universo diferente, nos Estados Unidos distópicos e em decadência etc. Sem falar nos dilemas morais que esse tipo de situação nos coloca. No entanto, não posso afirmar que a ideia foi bem executada, infelizmente.

Do mais, só posso dizer que acho que toda leitura vale a pena. Independente do que disse aqui nessa resenha, eu acho que você poderia dar uma chance para essa leitura (quando for lançada oficialmente), porque a ideia é interessante. E talvez não seja tão entediante para você. Então, espero que tenham curtido essa resenha. Deixem nos comentários suas impressões, ok? Obrigado e até a próxima!

Ficha técnica

A família Mandible

Autora: Lionel Shriver

Páginas: 448

Editora: Intrínseca

Ano: 2021

Onde comprar: Amazon (físico) | Amazon (eBook)

Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

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