Resenha: Re(a)mar - Carolina Schettini

Olá, tudo bem? Hoje é dia de mais resenha por aqui. E o livro que vou falar com vocês é “Re(a)mar”, da brasileira Carolina Schettini. O livro é lançamento recente da Páginas Editora, nossa parceira. Já digo para vocês que esse livro me deixou muito controverso, mas vou ser bem sincero, como sempre. Então, espero que aproveitem a leitura dessa resenha.

A SINOPSE DE “RE(A)MAR”, DE CAROLINA SCHETTINI E A ESCRITA

Mia e Tom se conheceram em um curso de verão e se tornaram amigos. Pretendiam seguir juntos, mas Tom deixou Mia para trás. Porém, continuava voltando à cidade e se encontrando com Mia, que seguia a vida dela. Tantos anos de encontros e desencontros levarão o leitor a presenciar situações inimagináveis, que culminam em um final surpreendente. E o melhor: quem conta a história é um narrador onisciente intrometido, palpiteiro e que adora um comentário. (Fonte: Páginas Editora)

Bom, sinopse está aí e, apesar de resumida, já dá pra ter uma ideia do que vem pela frente na história. Para começar, quero falar da escrita da escritora, que me surpreendeu muito positivamente. É uma escrita despojada, sincera, e que pouco vi na literatura. Aliás, acho que nunca me deparei com uma linguagem desse tipo, o que é muito bom e positivo. Gosto de ser surpreendido nesse sentido.

Já disse milhares de vezes como gosto quando o autor conversa com o leitor. Eu acho muito importante essa conexão, apesar de também amar quando não tem esse contato. Enfim, aqui há muito dessa conversa. É um jeito totalmente diferente de narrar uma história. Eu acho que o melhor adjetivo para descrever melhor essa narrativa seja indescritível.

A escrita da autora também é objetiva, o que ajuda a leitura a fluir. Isso conquista o leitor. De toda a experiência dessa leitura, o que se destaca, afinal de contas, é mesmo a escrita do autora. Há pontos altos e baixos nesse sentido, claro. Mas os pontos altos se evidenciam mais. E essa coisa de ter um narrador que participa da história, que se intromete, é também genial. Sem dúvida, ajuda a mover a história.

OS DIÁLOGOS E A LINHA DO TEMPO

Acho que a história passa rápido demais. É quase como se não houvesse uma linha temporal correta, como se as coisas fossem acontecendo e a autora (ou o narrador intrometido) estivesse relatando fatos do relacionamento dos protagonistas. Não acho isso ruim, necessariamente, mas gostaria de ver mais detalhes e mais profundidade em certos diálogos. Nada disso é demérito, acho que depende de leitor para leitor. Mas, para mim, fez falta.

Contudo, isso não prejudica a leitura. Pelo contrário, a autora consegue te fazer mergulhar na história de maneira muito natural e gostosa, querendo conhecer mais desse romance. E não deixa de ser divertido. Apesar de ser isso, um romance, uma ficção, algo que eu acho difícil ver na realidade. Além disso, em certos momentos, os diálogos parecem um tanto forçados, não naturais. E isso me incomoda um pouco, confesso.

Em relação ao tempo, especificamente, depois entendemos que, para a autora/narrador, isso não importa muito. Assim como não importa se é verão, inverno ou primavera. E o narrador te convence disso, de que o foco não são esses detalhes. Isso não influencia em tudo o que acontece com os protagonistas. O narrador também tenta convencer que essa é uma história complicada. Apesar de não ser assim tão complicada.

A CONTROVERSA HISTÓRIA DE “RE(A)MAR”, DE CAROLINA SCHETTINI

Aí, chegamos à parte difícil. Durante a leitura desse livro, eu tentei prestar atenção na escrita da autora, claro, mas também me senti bastante envolvido pela história. E a história é “pintada” como um romance, como é possível ler na sinopse. Contudo, ao longo da trama, é possível perceber que não é bem assim. Não vou entrar em detalhes, para não dar spoilers. Mas minha esperança é de que houvesse uma reviravolta ao longo da história.

Infelizmente, ela não acontece. E até aí, tudo bem. São, meramente, minhas expectativas que não foram atendidas. No entanto, essa “não reviravolta” é onde mora o problema. Isso porque, claramente, Mia vive com Tom um relacionamento abusivo, no mínimo. E não sou eu querendo problematizar as coisas. É bem simples quando lemos o quanto ele abusa emocionalmente de Mia, a ponto de deixar ela anestesiada com as coisas que ele faz com ela.

No fim das contas, para a protagonistas, é como se as atitudes dele fossem algo normal. E não é possível normalizar isso, nem romantizar esse tipo de relacionamento. Decidi conversar com uma pessoa que já havia lido esse livro e ela conseguiu trazer um outro ponto de vista, que eu até consigo compreender. Pois, de certa forma, a autora acaba relatando nesse livro uma situação que é vivida por muitas pessoas, em nossa realidade.

UMA IMPORTANTE REFLEXÃO

Dito isso, eu acho realmente que esse livro pode trazer uma reflexão importante sobre o tipo de relacionamento que vivemos, ou então, que pessoas ao nosso redor vivem. Nesse ponto, acho que ele pode ser uma luz para como saber lidar, ou no mínimo, procurar ajuda de amigos, familiares ou até profissionais especializados. Isso vale para a pessoa que vivencia esse tipo de relacionamento, ou até mesmo para quem conhece alguém que vivencia.

E aí, volto a falar de expectativas. Pois eu acho que a literatura pode ser exatamente isso: uma luz no fim do túnel contra preconceitos, paradigmas ou padrões, em qualquer nível ou circunstância. E eu esperava que a história de Mia tivesse um rumo diferente do que a autora escolheu. De que fosse uma mensagem mais clara de esperança e combate a esse tipo de relacionamento. Mas, novamente, estamos falando de expectativas.

PARA FINALIZAR…

No final, “Re(a)mar”, de Carolina Schettini, não é tão surpreendente quanto pretendia ser. Mas é algo que foi sendo construído pela autora de forma que seria o único caminho possível (nessa história, claro, não na realidade). Ela reserva o último capítulo para dar um pouco de ansiedade no leitor. Pelo menos pra saber o que de fato vai acontecer… se é um final feliz, acho que fica a critério do leitor.

Antes de finalizar, quero desabafar dizendo que Tom é, definitivamente, o personagem mais insuportável de toda a minha jornada lendo livros. Simplesmente. Mas, posso dizer com tranquilidade que esse é um livro que consegue entreter os leitores. E ele tem muitos pontos positivos para isso – a escrita, o narrador intrometido, a própria Mia, que é uma inspiração. Enfim, pode ser que você passe um pouco de raiva, mas dá pra sobreviver.

Ah, e agora sim, antes de fechar essa resenha, gostaria de destacar que gostei de ver minha profissão sendo representada nesse livro. A comunicação, como no geral, é a vida escolhida pelos protagonistas. E a autora consegue narrar um pouco dos bastidores dessa profissão no Brasil, os aspectos positivos e negativos, e pode servir como inspiração para muitas pessoas. A mim, pelo menos, só me fez me apaixonar, novamente, pela carreira que escolhi.

Enfim, galera, é isso. Espero que tenham gostado dessa resenha. Não se enganem, acho que a autora Carolina Schettini é uma escritora excelente e com potencial para muitos outros romances incríveis (e estou na torcida por isso!). É aguardar pra ver. À Páginas Editora, obrigado, como sempre, pela parceria. Até a próxima!

Ficha técnica

Re(a)mar

Autora: Carolina Schettini

Páginas: 206

Editora: Páginas

Ano: 2021

Onde comprar: Páginas Editora

Por Douglas Oliveira

Jornalista, leitor voraz e apaixonado por música. Fantasia ou thriller são as escolhas preferidas, mas gosta de se aventurar em toda leitura que o faça sair da zona de conforto.

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